Box 4-5-9, Primavera (março) 2012
(pág. 3-4)
Título original: ‘Me llamo… y
soy alcohólico’.
Eis uma das frases mais ouvidas nas
reuniões de A.A. em quase todos os lugares do mundo. Mas, de onde vem? Por que
a dizemos? E, devemos continuar a fazê-lo?
Parece claro que a identificação é um
conceito importante em A.A. Na realidade, podemos considerá-la a chave da
filosofia de A.A. – um alcoólico ajudando a outro alcoólico.
Entretanto, por se tratar de uma
Irmandade com grande variedade de sugestões, mas sem regras oficiais, é
necessário que uma pessoa diga, como muitos dizem ao apresentar-se em uma
reunião, que é alcoólica?
Nos primeiros anos de formação de
A.A., Bill W., um de seus cofundadores, se debatia com a dúvida referente a
esta questão e escrevia com frequência a respeito do dilema que enfrentavam os
recém-chegados enquanto lidavam com a doença, talvez pela primeira vez e no
contexto relativamente público de uma reunião de A.A.
Bill argumentava de forma incisiva
que devia ser oferecida ao recém-chegado a maior liberdade possível para
decidir como e quando se identificaria como alcoólico. Em um artigo escrito
para a Grapevine com o título “Quem é membro de Alcoólicos
Anônimos?” – artigo este que mais tarde iria formar a base da Terceira
Tradição, Bill comentou: “Esta é a razão pela qual julgamos cada vez menos
o recém-chegado. Se para ele o álcool é um problema incontrolável, e ele quer
fazer algo a respeito, não lhe requeremos mais… Atualmente, na maioria dos
Grupos, nem sequer é preciso dizer que é alcoólico. Qualquer um pode-se juntar
a A.A., apenas suspeitando que seja alcoólico ou que já perceba os sintomas
mortais da nossa doença”.
Bill esclareceu ainda mais sua
opinião nas palavras que aparecem no folheto “As Doze Tradições ilustradas” (Junaab,
código 106, R$ 6,00), na seção que trata da Terceira Tradição: “Quem
decide se o recém-chegado é ou não qualificado? Se quer mesmo parar de beber?
Ninguém, obviamente, exceto o próprio recém-chegado; todos os demais simplesmente
têm que aceitar sua palavra. Na realidade, ele não tem sequer que afirmar isso
em voz alta. E isso foi uma sorte para muitos de nós, que chegamos em A.A.
apenas com um vago desejo de ficarmos sóbrios. Estamos vivos porque o caminho
de A.A. se manteve aberto para nós”.
Ao se apresentar para falar, Bill W.,
muito raramente - para não dizer nunca, se identificava como alcoólico, e não
há nada na literatura de A.A. aprovada pela Conferência (EUA/Canadá), que
indique como os membros devem apresentar-se nas reuniões de A.A., nem sequer
que seja necessário fazê-lo. Entretanto, nos dias de hoje, pode haver momentos
muito tensos nas reuniões quando um membro não se apresenta
como “alcoólico/a” ou, mais tensos ainda, quando se complementa essa
identificação com palavras tais como “sou um alcoólico cruzado”, “sou
adicto” ou “alcoólico e dependente de outras drogas”.
Muitos membros acreditam que essas
complementações são preocupantes porque podem representar uma ameaça à nossa
unidade e unicidade de propósito. Em um artigo publicado em janeiro de 1990 na
revista Grapevine, Rosemary P., antiga delegada de Pittsford, Nova York,
escreveu: “Quando em um evento de A.A. digo que sou ‘alcoólica e
dependente de outras drogas’ ou ‘dependente cruzada’, estou-lhes
dizendo que sou um caso especial de bêbada, que meu alcoolismo é diferente do
seu. Estou dando uma dimensão extra à minha doença – dimensão esta que, dada a
unicidade de propósito, não é apropriado mencionar em uma reunião de A.A.
Quebrei nosso vínculo pela metade e, mais importante ainda, diluí meu próprio
propósito para estar ali”.
Mas, de onde veio este costume de
identificar-se como alcoólico/a e como acabou por se gravar tão indelevelmente
na paisagem de A.A. do século XXI?
Continua...
Símbolo de AA
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