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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Alcoólicos Anônimos – 77 anos.

Dom, 10 de Junho de 2012  - Matéria publicada no site: http://www.aguasdepontal.com.br/artigos/418-alcoolicos-anonimos-77-anos.html


No dia 10 de junho de 1935, na cidade de Akron, Estado de Ohio, nos Estados Unidos da América do Norte, começa ser escrita a história de Alcoólicos Anônimos.

Com singela grandeza, exuberante beleza, salvando e restaurando vidas, chega aos setenta e sete anos. É dela que fazem parte homens e mulheres um dia condenados ao desterro, destruídos moral, material, emocional e espiritualmente. Hoje, revigorados, ressuscitados para a vida, amantes da paz, fazedores do bem, servos de um Poder Superior, escolhido a gosto de cada um – para a maioria um Deus Amantíssimo – que os ampara um dia de cada vez, transformando a vida, apesar das dificuldades, num espetáculo fascinante e imperdível.
Com reuniões grupais estão presentes em quase todos os países do nosso planeta. Virtualmente, através da internet, em todo o mundo.
O anonimato é patrimônio de cada membro. Não se revelam publicamente ou na mídia, em respeito as suas tradições. Elas recomendam os princípios em detrimento às personalidades. O importante é o que se faz e não quem faz.

Nós de A.A. somos homens e mulheres que descobrimos e admitimos ser incapazes de controlar o álcool. Precisamos viver sem ele, a fim de evitar a ruína para nós mesmos e para os que nos são preciosos.
Nosso único e fundamental propósito é mantermo-nos sóbrios e atender àqueles que procuram nosso auxílio, ajudando-os a alcançar a sobriedade.
Não somos reformadores nem estamos ligados a qualquer grupo, causa ou filiação religiosa. Não temos desejo algum de tornar o mundo abstêmio. Não recrutamos membros. Evitamos impor nossos pontos de vista e só nos pronunciamos sobre eles quando solicitados.
Une-nos um problema comum: o álcool. Encontrando-nos, trocando ideias, ou ajudando outros alcoólatras, podemos, de algum modo, permanecer sóbrios e eliminar a compulsão pela bebida que outrora foi a força dominante em nossa vida.
Conquanto não haja uma “definição de A.A.” formal do alcoolismo, concordamos, na maioria, tratar-se de uma compulsão física aliada a uma obsessão mental. Com isso queremos dizer que tínhamos um desejo físico, bem distinto, de consumir álcool além do que podíamos controlar e em desafio a todas as regras do bom senso. Tínhamos não só um desejo anormal pelo álcool, como ainda frequentemente sucumbíamos a ele nas piores ocasiões. Não sabíamos quando (ou como) parar de beber. Muitas vezes não tínhamos sensatez bastante para saber quando não começar.
Hoje admitimos que o alcoolismo, ao menos pelo que nos tange, é uma doença progressiva, que jamais pode ser “curada”, mas que, como outras enfermidades, pode ser estacionada. Concordamos que não há nada vergonhoso em estar-se doente, desde que se encare o problema com honestidade e procure solucioná-lo.
Compreendemos agora que, uma vez que uma pessoa cruze a invisível fronteira entre um forte hábito de beber e o alcoolismo compulsivo, será sempre um alcoólatra. Pelo que sabemos, nunca mais poderá voltar ao hábito social (normal) de beber. “Uma vez alcoólatra, sempre alcoólatra”. É um simples fato com o qual temos que conviver.
Nossa experiência em A.A. ensinou-nos duas coisas importantes. Primeira: os problemas básicos que os alcoólatras enfrentam são os mesmos, tanto para os que esmolam para beber uma pinga quanto para os que exercem elevadas funções em grandes empresas. Segunda: agora compreendemos que o programa de A.A. de recuperação funciona para quase todo o alcoólatra, se este honestamente quer que funcione, não importa qual o seu nível social ou sua experiência com a bebida.
Também começamos a nos perguntar o que seria necessário fazer para permanecermos sóbrios, quanto custaria ser membro de A.A., quem “dirigia” a sociedade no plano local e internacional. Logo descobrimos que não há imposições, que ninguém é obrigado a seguir qualquer ritual ou padrão de conduta. Aprendemos também que não são cobradas taxas ou mensalidades de espécie alguma. As despesas com as salas de reuniões, com o café e com outros gastos são cobertas por meio de coleta que não é obrigatória.
Percebemos que Alcoólicos Anônimos não tem dirigentes, apenas servidores que cuidam de assuntos essenciais à unidade da Irmandade e que se revezam periodicamente, não existindo “chefes”.

Parte do depoimento de um participante da Irmandade de Alcoólicos Anônimos, gravado, com autorização, em reunião de grupo:
Ouvi falar sobre Alcoólicos Anônimos no manicômio onde me internei em 1983. Achava que só um “louco” poderia ser protagonista da vida que levava. Nos dois anos seguintes, ainda bebendo, nunca mais consegui fazê-lo "sossegado". Parecia que alguém me observava e aí começou a fase em que parti para o submundo da periferia, onde ninguém me conhecia e em qualquer boteco eu era o "rei".
Ainda tinha dinheiro, pagava a bebedeira de "todo mundo" e era insolente. Não dormi na rua, na calçada, na sarjeta, porque, ou entrava no carro ou me jogavam lá dentro.
Foi assim que em 27 de junho de 1985 fui encontrado pela minha filha, às 10h00 (da manhã), dormindo. Bem próximo havia um "orelhão". Liguei e pedi socorro. Na minha carteira, num pequeno papel, constava o número do telefone da pessoa que me socorreu e que dois anos antes me abordara, pois, conhecia minha saga desde o internamento em 1983.
Naquele mesmo dia, às 19h30, fui levado por aquela pessoa a uma sala de reuniões dos AAs. Ela fazia parte da Irmandade.
Depois de várias reuniões entendi que a minha dependência física e a obsessão mental pelo álcool eram tamanhas, que não haveria solução só com a minha vontade e que somente um ato da "Providência" poderia me salvar. Não se tratava mais de parar de beber. Era preciso acontecer o milagre da "ressurreição". Acreditei no milagre.
Comecei a distinguir o dia da noite, comecei a segurar uma xícara na mão, consegui escrever e a caligrafia voltou a ser bonita. Reaprendi que o ano tem quatro estações, que o sabiá canta de outubro a janeiro. Nas ruas me deparava com novos modelos de carros, que não sabia que existiam. Voltei a sentir frio e calor e o cafezinho era saboroso. Aliás, em poucas semanas assumi a cozinha do grupo, fazia e servia café e todos diziam que nunca haviam tomado café tão bom.
Entendi mais tarde que nasci alcoólatra, ou possível portador da doença do alcoolismo. Já aos 13 anos bebia quatro a cinco doses de vodka com refrigerante, enquanto meus amigos (meninos como eu) mal conseguiam tomar uma dose.
Embora tenha constituído família, construído uma carreira brilhante, meu "norte" sempre foi o álcool, ou seja, tinha que estar sempre presente no dia-a-dia e sutilmente evoluiu ao longo de 25 anos até a derrota total.
Não confundo espiritualidade com religião, nem religiosidade. Sei que absorvi espiritualidade. Não sei a intensidade. Só sei que quando ouço, falo, escrevo sobre Alcoólicos Anônimos e convivo com os AAs. sinto leveza no coração e paz nunca dantes vivida. Está dentro de mim. É difícil descrever, porém, é maravilhoso.
No balanço da vida, entre erros e acertos, sobras e perdas, no embate direto materialista, não há dúvida, saio perdendo, embora tenha nascido sob a aura do bem e procurado praticar o bem.
Tenho, porém, uma verdade inquestionável: minha vida adquiriu sentido a partir de Alcoólicos Anônimos. Não existe nenhum fanatismo, é puro amor, por uma filosofia, uma causa, um objetivo, enfim. . . acho que só eu entendo, sem pretender, jamais, ser melhor do que ninguém.
No dia 10 de junho próximo, Alcoólicos Anônimos, completa 77 anos de existência. Quero dizer algumas palavras mais especiais para agradecer.
“Quero fazer da vida um gesto de querer bem, que se prolongue através do espaço e do tempo. Quero fazer da vida uma esperança para os que perderam as forças, uma luz para os que tropeçam na noite, uma sombra para os que se arrastam ao sol, um aceno do alto para os que procuram o caminho, um encontro para os que vivem na solidão.”
Agradecer porque tenho bons amigos, que me ouvem, abrem os braços, dizem coisas que há muito ignorei;
Agradecer porque sou depositário de boas novas, desejos plausíveis, sonhos quase reais;
Porque sinto que o imaginário perdeu o encanto, que a realidade, mesmo que, às vezes cruel, incentiva-me a lutar pela fuga da insanidade;
Porque vivo momentos intensos e sublimes de credulidade e fé;
Porque sei que os valores morais foram reconquistados, que a sabedoria perdida vai chegando e, de repente, vejo que sou capaz;
Porque a mansidão e a ternura têm substituído com folga, a raiva e o ódio;
Meus passos não são mais medrosos;
Minha fé abre as alas da escuridão. Há luz. Muita luz;
Não sou mais aquela folha seca jogada e abandonada pela brisa. Encontrei o meu descanso. Estou no meu lugar;
Escapei da morte. Deixei de beber.
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Notas do editor: http://www.aguasdepontal.com.br/artigos/418-alcoolicos-anonimos-77-anos.html
Contatos de Alcoólicos Anônimos (entre outros)
www.alcoolicosanonimos-pr.org.br
www.alcoolicosanonimos.org.br
www.aa.org
www.aasobriedade.org
www.aabr.com.br
As partes deste artigo destacadas em fonte itálica foram extraídas da literatura oficial de A.A.
O membro da Irmandade, que relatou parte de sua história pessoal, destacada em negrito, é amigo particular do editor.

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