CURTIR

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

“AQUELES MARAVILHOSOS DOZE PASSOS “


Pelo Dr. Harry Emerson Fosdick
(Uma interpretação dos Passos por um acadêmico eminente que não foi um dos nossos, porém sempre foi um conosco.)

Não foram teorias complicadas e teológicas acerca de Deus as que escreveram os Doze Passos de A.A. Eles foram forjados na dura rocha da experiência de homens que se encontravam em desesperada ecessidade. Entretanto, falando como um clérigo que nunca foi alcoólico, eu leio aqueles Doze Passos com profunda admiração intelectual. Eles estabelecem com suficiente clareza e concisão as verdades essenciais, tanto psicológicas quanto teológicas, que formam a base de uma possibilidade de transformação de caráter.
O alcoólico não é a única pessoa que chega a ponto de ter que admitir que é impotente para dirigir sua vida. Nesse ponto, sou levado a uma crise nervosa. Completamente derrotado, em um sanatório, minha força de vontade em tal estado que quanto mais me tratava pior me encontrava, tive que admitir que minha vida tornara-se ingovernável. Foi então quando vi minha incapacidade de salvar a mim mesmo, quando desesperadamente dei as boas-vindas a um Poder proveniente do exterior de meu próprio ser. Quando li o Segundo Passo, “Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sobriedade”, senti que acertara na mosca do meu problema.
Os Doze Passos de A.A. não são válidos somente para os alcoólicos. São verdades básicas e universais. Isto se aplica a Robert Louis Stevenson quando se transformou de uma vida irresponsável em propósito e sem destino, numa vida vigorosa e plena de propósitos, e relacionou essa mudança com “aquele piloto desconhecido que nós chamamos de Deus”.
Para uma vida sã e sensata há duas técnicas indispensáveis. A primeira é a força de vontade, isto é, pondo todo nosso esforço e lutando para sobrepujar as dificuldades. A segunda é uma atitude receptiva, a hospitalidade a um poder que está além de nós, ao que o apóstolo Paulo chamava ser “fortalecido por um poder que vem de seu Espírito para o homem interior”. A primeira maneira é como a fruta de uma árvore; a segunda é como a raiz da árvore. Depois de muitos anos atuando como conselheiro pessoal, estou seguro de que, tarde ou cedo, cada vida passa por alguma experiência que a primeira técnica não pode suprir e a segunda técnica se converte em uma necessidade crítica.
Aqui, novamente, os Doze Passos estabelecem uma verdade universal. Por certo, devemos fazer uso de todas as nossas forças, mas apenas o esforço físico não é suficiente; é essencial receber o ar, a comida, a luz do sol. Minha fé religiosa básica é que, assim como ao redor do nosso organismo, há um universo físico do qual nos chega a força revitalizadora, assim também ao redor de nossas almas há uma Presença espiritual em cuja companhia nossas vidas podem ser sustentadas e transformados nossos caracteres. Por isso, o Décimo Primeiro Passo, “Procuramos através da prece e da meditação melhorar nosso contato consciente com Deus...”, descreve uma necessidade universal.
Sem dúvida, em certas ocasiões se encontra um homem com tanta confiança em si mesmo e em seu vigor que crê não necessitar de força distinta a de sua própria vontade.
Ele gosta de citar o “Invencível” de Henley: “Eu sou o dono do meu destino. Eu sou o capitão da minha alma”. Isso pode soar esplêndido, mas não esqueçamos o que a história nos conta sobre Henley. Ele tinha um amigo que o conhecia intimamente e, portanto sabia como em determinadas ocasiões era tão débil como a água em se tratando da tentação da carne. Um dia, o tal amigo citou o verso ao próprio Henley, “Eu sou o capitão de minha alma”, e logo acrescentou, “E que tão mal capitão, maldita seja.”
Muitos homens, orgulhosamente confiantes de que por si mesmos podem dirigir os seus destinos, necessitam que se lhes diga: Não! E para isto os Doze Passos caem como uma luva.
Posso imaginar determinado tipo de pensador teológico que levanta uma sobrancelha ao ter aquela frase em letras cursivas que se tem quê ler duas vezes, “Deus como nós O concebemos”. Eu a aplaudo. Ela é mais que uma expressão de tolerância que faz possível aos católicos, protestantes e judeus unirem-se na prática dos Doze Passos. Uma vez mais, encontra-se envolvida uma verdade indispensável e universal.
De Deus pode-se pensar que é o Ser Absoluto. Mas, em uma crise, quando o homem luta contra um hábito ingovernável ou uma doença abismal, o Ser Absoluto pode parecer distante, frio e inútil como o homem na lua. O que necessitamos numa crise é um Deus próximo. Deus como nós O entendemos, Deus como uma fonte disponível ao alcance de nossas mãos, nosso Amigo invisível, nosso Companheiro tão evidente. Certamente que todas as nossas idéias diferentes e parciais de Deus são inadequadas! Mas qualquer um que, por causa do álcool ou qualquer outra razão, passou pela experiência dos Doze Passos pode entender, quando menos minimamente, algo do que o salmista quis dizer quando escreveu: “Oh, Deus, Tu és o meu Deus”.
Faz algum tempo, escutei um homem falar sobre Deus. Não foi dogmático, nem fanático em sua maneira de falar. Mas era indefinido. Havia estado em um abismo de imoral Idade que o levara ao desespero. Todos os seus amigos pensavam que não haveria solução. E nesta desalentada situação, conquanto sempre tivesse se considerado agnóstico, se atirou de braços abertos a qualquer Deus que pudesse existir e algo aconteceu. Não conheço melhor descrição para o que ocorreu do que a frase de que se utilizou Virgílio quando conduziu Dante do inferno, através do purgatório, e o deixou na porta do paraíso, dizendo, “Sobre ti coloco a coroa e a mitra”.
Assim, este homem que estava desesperado, pôde levantar-se, coroado e mitrado. Nenhum teólogo poderia sentir-se mais seguro sobre Deus do que ele estava. Para ele, Deus não era “algo de algo”, ou, para usar a frase de um estudante, “um borrão elíptico”. Pelo contrário, tal qual o cego a quem Jesus curou, viveu uma experiência de honestidade e bondade que nenhum materialismo poderia explicar, que tão somente um Deus real O teria sob Seus cuidados e a Ele o cego deu seu testemunho de convicção e definição: “De uma coisa estou convencido, e é que eu era cego e agora posso ver”.
Este acento de experiência é realista nos Doze Passos, o que os torna tão vitais. Através deles, se sente um evangelho de esperança: Nenhum homem tem necessidade de manter-se como está. John Callender era capitão no exército de Jorge Washington, e na batalha de Bunker Hill, foi responsabilizado por uma covardia tão monstruosa que Washington publicamente o desonrou, acusando-o de ser infame, imperdoável para um soldado, ofensivo para o exército, e o último a quem se poderia perdoar.
E este foi o final de John Cailender? Não! Voltou a alistar-se como soldado, e na batalha de Long Istand demonstrou tamanha coragem que Washington restaurou seu posto de capitão. Poderia apostar que, se John Caliender tivesse lido os Doze Passos, teria reconhecido experiência pela qual teve que passar.
Especialmente impressionante é a forma em que os Doze Passos evitam toda autocomiseração, com seu inevitável acompanhamento quanto a atribuir aos outros a culpa por nossas faltas, “com destemor, fizemos um inventário moral de nós mesmos”. Isto significa realismo ético e sentido comum psicológico. E, a partir deste ponto, o admitir “a natureza exata de nossas falhas”, o estar dispostos que “Deus eliminasse todos os defeitos de caráter”, e o resto, os Doze Passos trazem um caminho de penitência, confissão, reparação, que fazem um conselheiro desejar que muitas pessoas além dos alcoólicos tomassem este caminho indispensável de transformação moral.
As palavras não podem expressar adequadamente a gratidão que muitos de nós sentimos ao haver observado com admiração o surpreendente progresso de Alcoólicos Anônimos. Dentre os muitos fatores que têm contribuído para este êxito, estou seguro de que um é especial: Os Doze Passos representam a verdade eterna de todas as regenerações pessoais. Seus princípios básicos são eternamente assim, não só para os alcoólicos, como também para todas as pessoas.


*Informação do tradutor: O nome do reverendo Harry Emerson Fosdick, autor deste artigo, publicado na Revista “El Mensaje” de dez°176 encontra-se mencionado nas páginas 13, 150, 155, 164 e 293 no livro “Alcoólicos Anônimos Atinge A Maioridade”.
(Artigo publicado na Revista “El Mensaje” de dez° /76)            Tradução: Edson H.

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