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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Devagar com o Andor - por Bill W.

 

Alcoólicos Anônimos não é uma religião, nem um tratamento médico, tampouco pretende alguma perícia quanto às motivações inconscientes do comportamento humano. Essas são realidades que freqüentemente esquecemos. Aqui e acolá, ouvimos membros proclamarem que A.A. é uma nova e grande religião. Além disso, temos a tendência de menosprezar o suporte da medicina. O fato da psiquiatria não ter conseguido, ainda, levar à sobriedade muitos alcoólatras, nos inclina a falar dessa profissão com palavras nada agradáveis. Uma vez mais, esquecemos que devemos a nossa própria existência à religião e às artes médicas. Na formação de seus princípios e posturas fundamentais, A.A. se apropriou muito desses recursos. Eram nossos amigos, sobretudo, os que nos facilitavam os princípios e posturas que hoje nos permitem viver e progredir. Por isso, todos devemos reconhecer o grande mérito desses amigos. Conquanto seja verdade que nós, os bêbados, criamos Alcoólicos Anônimos, outras pessoas nos proporcionaram todos os ingredientes básicos. Nesse caso, em especial, nossa máxima deve ser:"Sejamos amistosos com os nossos amigos".

A história da raça humana nos ensina que quase todos os grupos de homens e mulheres tendem, com o tempo, a ser dogmáticos; suas crenças e costumes vão se cristalizando e, às vezes, acabam se tornando rígidos. Essa é uma evolução natural e praticamente inevitável. Todo mundo, é claro, deve obedecer a voz de suas convicções. E nós, AAs, não constituímos uma exceção. Ademais, todos devem ter o direito de expressar suas convicções. Este é um bom princípio e um dogma salutar. Porém, o dogma também tem suas desvantagens. Pelo fato de termos algumas convicções que nos dão bons resultados, acreditamos que temos toda a verdade. Se permitirmos que se manifeste esse tipo de arrogância, forçosamente acabamos procurando nos impor, exigindo que as pessoas estejam de acordo conosco. Atribuímos nossas convicções a Deus e isso não é um dogma salutar. É um dogma insano. Ao incorrermos nesse erro, o efeito em nós pode ser devastador.

Temos, a cada ano, dezenas de milhares de recém-chegados. Representam quase todas as crenças e posturas que possamos imaginar. Temos ateus e agnósticos. Temos gente de quase todas as raças, culturas e religiões. Pressupõe-se que em A.A. estamos vinculados por uma afinidade derivada do nosso sofrimento comum. Portanto, devemos considerar de suma importância a liberdade incondicional da adesão a qualquer crença, teoria ou terapia. Por conseguinte, nunca devemos tentar impor a ninguém nossas opiniões pessoais ou coletivas. Devemos ter, uns pelos outros, o respeito e o amor que cada um ser humano merece à medida que se esforça para aproximar-se da luz. Tentemos sempre ser inclusivos e não exclusivos. Tenhamos sempre presente que todos os nossos companheiros alcoólicos são membros de A.A enquanto assim o disserem.

Alguns dos perigos mais notórios que nos ameaçam sempre terão a ver com o dinheiro, com as controvérsias internas e com a tentação perene de buscar descabeladamente, tanto no mundo exterior quanto dentro de nossa Comunidade, as honras, o prestígio e o poder. Hoje vemos o mundo desgarrado por forças insubmissas. Como bebedores, temos sido mais suscetíveis do que as demais pessoas a essas formas de destruição. Por essa experiência, graças a Deus, temos - e espero que prossigamos tendo - uma clara e profunda conscientização de nossa responsabilidade de melhorar.

Entretanto, não devemos deixar que o temor que sentimos diante dessas forças nos engane, de maneira que fiquemos inventando justificações absurdas. O medo de acumular riqueza ou de montar uma torpe burocracia, não deve servir de pretexto para não cobrir nossos legítimos pasto de serviço. O temor à controvérsia não deve causar que, quando surgir a necessidade de um debate aquentado e uma ação resoluta, nossos líderes se comportem com timidez. Tampouco deve o temor pelo acúmulo de prestígio e poder impedir-nos de conceder a nossos fieis servidores a autoridade apropriada para atuar por nós.

Não temamos jamais as mudanças necessárias. Naturalmente, teremos que saber distinguir entre as mudanças que conduzem à melhoria e as mudanças que nos levam de mal a pior. Quando se faz bem evidente a necessidade de mudar, pessoalmente, no grupo ou em A.A. como um todo, já faz tempo que nos demos conta de que não podemos permanecer quietos e fazer vista grossa. A essência de todo progresso é a boa disposição para fazer as mudanças que conduzem ao melhor e, em seguida, a resolução de aceitar quaisquer responsabilidades que advenham dessas mudanças.

Para concluir, vale comentar que, na maioria dos aspectos de nossa vida, nós, AAs, temos podido fazer progressos substanciais quanto à nossa vontade e à nossa capacidade para aceitar, e cumprir, as nossas responsabilidades (...).

Ao dar uma olhada no futuro, vemos claramente que uma boa vontade cada vez mais profunda será a chave do progresso que Deus espera que façamos na medida em que caminhemos até o destino que Ele nos tem reservado.


(Artigo escrito por Bill W. para a Grapevine de julho de 1965

Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

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