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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Evitando Tempestades

 

1oº PASSO – “Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.”
Vou recorrer à história para falar um pouco da minha experiência com o Décimo Passo.
O terremoto de Lisboa em 1755 é considerado a maior tragédia natural até hoje vivida pela Europa. Milhares de mortos. E da pergunta de Dom José, Rei de Portugal à época, ao Marquês de Alorna, General D'Almeida: E agora, o que fazer?
Veio a sábia resposta: “Agora Majestade, é enterrar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”. É a partir desta resposta que vou traçar meu paralelo com o Décimo Passo, pois é exatamente isso que acredito devemos fazer na prática deste Passo. Enterrar os mortos, não ficar imaginando como seria se eu não fosse alcoólico, se meu passado fosse diferente, se isso, se aquilo (armadilha do “se”) não tivesse acontecido, nem ficar tentando entender as razões mais profundas de minhas crises passadas.
Enterrar os mortos para cuidar dos vivos, significa cuidar do que sobrou, do que existe de concreto, de real.
Fechar os portos significava para eles à época impedir que novas epidemias chegassem, pois eram os navios que chegavam aos portos que traziam epidemias, saques, bandidos, etc. e para mim significa praticar os Passos para evitar nova tragédia no alcoolismo.
Portanto, praticar o Décimo Passo é fechar os portos e, porque não, as portas para uma recaída, seja ela física, emocional ou espiritual.
A tempestade passou; cuidamos dela até o Nono Passo; agora é criar condições para evitar novas tempestades e criar uma base sólida de desenvolvimento emocional e espiritual para que possamos vir a ser um ser humano íntegro, útil e, acima de tudo, merecedores de uma nova vida.
No Décimo Passo começamos a praticar o modo de vida de A.A. Além de dar manutenção ao que já foi realizado nos Passos anteriores, agora precisamos de muita vigilância para não deixar acumular ações negativas.
Aprendemos a conservar o que alcançamos, ficamos mais confiantes e prosseguimos nossa viagem espiritual com alegria.
Os nove primeiros Passos puseram nossa casa em ordem e nos permitiram mudar alguns de nossos comportamentos destrutivos.
A prática dos Passos começa a valer a pena quando aumentamos nossa capacidade de desenvolver meios novos e mais saudáveis de cuidar de nós mesmos e de nos relacionar com os outros.
Por em prática os Passos ajudounos a ver como somos frágeis e vulneráveis, mas com a prática diária desses Passos começamos a sentir que somos capazes de alcançar e manter nosso novo equilíbrio.
Nossas habilidades de relacionamento melhorarão e veremos como nossas interações com os outros assumem nova qualidade.
O Décimo Passo mostra o caminho para o contínuo crescimento espiritual. No passado, tínhamos o fardo constante dos resultados de nossa falta de atenção no que fazíamos. Deixamos pequenos problemas tornarem-se grandes, ignorando-os até se multiplicarem. Deixamos nosso comportamento ineficiente criar confusão em nossas vidas.
No Décimo Passo, conscientemente examinamos nossa conduta diária e admitimos o que encontramos de errado.
Precisamos não nos julgar com severidade excessiva. Precisamos reconhecer que nossa educação emocional e espiritual requer vigilância diária, compreensão carinhosa e paciência.
A vida nunca é estável; muda constantemente e a cada mudança exige ajustes e desenvolvimento.
O inventário pessoal é um exame cotidiano de nossas forças e fraquezas, das ameaças e oportunidades que o mundo nos propicia, é um exame de nossos motivos e de nossos comportamentos.
Fazer o inventário diário não é uma tarefa demorada, em geral não se gasta mais do que 15 minutos para a sua prática e pode ser feito em qualquer lugar. Temos que ter disciplina e regularidade, pois o comodismo pode nos afastar dele. É importante nos vigiar para verificar se estamos enviando sinais de que estamos voltando aos velhos hábitos.
A prática diária do Décimo Passo conserva a nossa sinceridade e humildade e nos permite continuar nosso desenvolvimento. O inventário pessoal nos ajuda a descobrir quem somos, o que somos e para onde vamos.
No século XVIII os problemas externos chegavam pelos portos. Fechar os portos para dar foco e cuidar do que sobrou dos vivos.
Para nós hoje, fechar os portos significa que a vida é daqui para frente. Ao fecharmos os nossos portos para novos saques, para os abutres (ressentimento, mania de grandeza, arrogância, autopiedade, prepotência, etc.) estamos cuidando de nossa vida atual. E, como sabemos, se quisermos viver bem o amanhã, temos que cuidar bem do hoje.
A tempestade passou, agora é deixar o passado onde ele deve estar, ou seja, no passado, e cuidar do hoje, que é o que realmente existe.
Este é o meu entendimento e a idéia que faço hoje do Décimo Passo.
Agradeço a todos os companheiros pela minha sobrevivência ao alcoolismo e à Revista Vivência pela oportunidade de compartilhar meu ponto de vista.
Obrigado!

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