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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Alcoólicos Anônimos - Uma Solução Disponível

 
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"O alcoolismo é uma doença que a família esconde, o dependente nega e a sociedade condena”.
Essa frase, dita por um alcoólico em recuperação que há 11 anos frequenta o A.A – Alcoólicos Anônimos - , sintetiza toda a problemática que envolve milhares de pessoas que carregam consigo a doença do alcoolismo.
Embora ainda seja visto por muitos como um vício, a OMS – Organização Mundial da Saúde, já definiu o alcoolismo como uma doença. Doença esta que leva à morte de várias formas, não só pelo consumo excessivo do álcool que é totalmente prejudicial à saúde, mas também pelo fato e muitas vezes ser ele o grande responsável por diversos casos de violência doméstica e maus-tratos infantis. Além disso, uma pessoa que dirige alcoolizada coloca sua vida em risco e a de outras pessoas. A instituição da Lei Seca, em junho de 2008, foi um importante passo para ajudar a diminuir os acidentes e mortes no trânsito, mas é preciso que cada pessoa se conscientize que álcool e direção definitivamente não combinam, pois o número de pessoas dirigindo alcoolizadas voltaram a subir, segundo o Mistério da Saúde.
A OMS estima que existam cerca de 2 bilhões de pessoas consumindo bebidas alcoólicas em todo o mundo e 76,3 milhões, com diagnóstico de transtornos de uso de álcool.
Segundo dados do Ministério da Saúde analisados entre 2000 e 2006 a taxa de mortalidade por doenças associadas ao alcoolismo no Brasil subiu de 10,7 para 12,64 óbitos por 100 mil habitantes em seis anos e os especialistas acreditam que o número de mortes pode ser ainda maior.
Em pesquisa divulgada este ano pelo Vigitel - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, realizada pelo Ministério da Saúde, por amostragem com 54 mil pessoas residentes nas capitais e Distrito Federal, as informações sobre o consumo abusivo de álcool comprovam esta tendência de crescimento.
Em 2008, 19% declararam ter consumido álcool de forma abusiva em alguma ocasião nos últimos 30 dias. Em 2007, foram 17,5%; em 2006, primeiro ano do Vigitel, foram 16,1%. O consumo é mais frequente em faixas etárias mais jovens – alcançando 30% dos homens e 10% das mulheres entre 18 e 44 anos.
De acordo levantamentos do Vigitel 2008, o percentual de consumo abusivo de álcool para o sexo masculino é de 29% dos entrevistados, 10 pontos percentuais acima da média nacional (19%) e três vezes maior do que o registrado entre as mulheres (10,5%). De acordo com o estudo, o percentual de consumo abusivo de álcool entre homens em 2008 foi o maior desde 2006, quando teve início o Vigitel. Há três anos, 25,3% dos homens entrevistados afirmaram ter consumido abusivamente o álcool, contra 27,2% (2007) e 29% (2008).
As mulheres também estão bebendo mais. Em 2008, o percentual de consumo abusivo de álcool foi de 10,5%, contra 9,3% em 2007 e 8,1% em 2006. Outro dado preocupante da pesquisa mostra que os brasileiros voltaram a beber e dirigir com mais frequência nos últimos meses de 2008 em relação aos primeiros meses da Lei Seca, e reverteu a tendência inicial de queda verificada pelo Ministério da Saúde. Nos meses de julho, agosto, setembro e outubro do ano passado, os percentuais de pessoas que afirmaram ter consumido álcool de forma abusiva e ter dirigido depois foram de 1,3%, 0,9%, 1,2%, 1,2%, respectivamente. Em novembro e dezembro, os percentuais saltaram para 2,1% e 2,6%, dados bastante elevados em relação aos meses anteriores. Todas essas pesquisas demonstram que o consumo do álcool é cada vez maior.
E quando esse hábito se torna uma doença, a quem recorrer? É possível se livrar deste vício sozinho? Segundo os alcoólicos em recuperação que frequentam as reuniões de A.A., certamente não!
Qualquer que seja a linha de pensamento seguida pelos profissionais da saúde física e mental em relação ao tratamento e recuperação de pessoas que tenham desenvolvido dependência de substâncias psicoativas, dentre elas o álcool, ninguém duvida da importância dos grupos de mútua ajuda para a efetiva eficácia de seu trabalho e redução significativa das recaídas.
Desses grupos, os mais conhecidos, organizados e disponíveis para a comunidade como um todo são os das irmandades anônimas, baseadas no programa desenvolvido por Alcoólicos Anônimos, a mais antiga delas.
Alcoólicos Anônimos, ou A.A., é uma irmandade mundial, presente em mais de 150 países, atualmente com cerca de 2,5 milhões de integrantes, todos portadores da doença do alcoolismo, que utilizam seu programa de recuperação para se manterem sóbrios e ajudarem outras pessoas que tenham problemas com a bebida e queiram se livrar dela. O único requisito para tornar-se membro da irmandade é o desejo de parar de beber, mas nem sempre é fácil para o alcoólico procurar ajuda no A.A., pois ainda existe muito preconceito por parte da sociedade e da própria pessoa que passa pelo problema.
“Existe um preconceito de uma maneira em geral porque alcoólico ou alcoolismo é uma palavra pejorativa. Eu mesmo quando fui procurar o A.A. tinha vergonha. Eu não tinha vergonha que as pessoas me vissem caindo, saindo dos botecos, chegando em casa bêbado, gritando, mas tinha vergonha que as pessoas me vissem entrando numa sala de A.A.”, conta nosso entrevistado em recuperação, que hoje se dedica a ajudar outros alcoólicos durante as reuniões de A.A. que frequenta há 11 anos.
O A.A. nasceu na cidade de Akron, Ohio, nos Estados Unidos, em junho de 1935 quando um corretor da Bolsa de New York conhecido por Bill W. e o Dr. Bob, ambos alcoólicos, com suas vidas já comprometidas pela doença, descobriram que compartilhando os problemas decorrentes de sua situação comum ficava muito mais fácil manter a abstinência total do álcool, única chance de recuperação, pois mesmo que o alcoólico passe por longos períodos de abstinência basta um único gole para desenfrear a compulsão.
“Eu achava que era um safado, um sem vergonha que não tinha força de vontade de parar de beber, até conhecer o A.A., onde percebi que o alcoolismo é uma doença: a terceira doença que mais mata no mundo”. Por diversas vezes nosso entrevistado disse que tentou parar de beber sozinho, mas tinha recaídas e só conseguiu atingir este objetivo quando começou a acompanhar as reuniões de A.A.
Nas reuniões de A.A., os depoimentos são bastante fortes, as pessoas contam a vida delas e como conheceram o AA. Quando chega uma pessoa nova na irmandade, os demais membros fazem o depoimento voltado para aquela pessoa, contando sua história, com os detalhes de tudo que o álcool as fez passar, as coisas ruins que a bebida desencadeou em suas vidas, mas principalmente conta há quanto tempo está na irmandade e como as reuniões têm ajudado para que não aconteçam novas recaídas.
Os membros de A.A. sabem que jamais conseguirão beber controladamente e não mantêm a ilusão de que trocando a cachaça pelo uísque, cerveja ou vinho, possam transformar-se em bebedores sociais.
Para a recuperação do alcoolismo é preciso observar os 12 Passos sugeridos em todos os grupos de A.A. espalhados pelo mundo, que são na verdade uma série de atitudes e procedimentos que obtiveram total sucesso por todos aqueles que os experimentaram em seu trabalho de recuperação. Os passos começam com o óbvio, ou seja, com a admissão pelo alcoólico de sua impotência perante o álcool, que perdeu o controle de sua vida e nada pode fazer para sair dessa situação sozinho. Segundo o A.A., quem pratica os 12 Passos consegue viver uma vida longe das bebidas.
A.A. não cobra nenhuma mensalidade ou taxa obrigatória. Para fazer frente às despesas de sua própria existência, Alcoólicos Anônimos recorre à consciência de seus membros, através de uma coleta feita em cada reunião mediante uma sacola anônima, onde cada um tem liberdade de contribuir - ou não - com aquilo que puder.
Aliás, a liberdade total e portas sempre abertas são a principal característica da irmandade, onde para ser membro não é preciso sequer abandonar a bebida, mas apenas dispor-se, mesmo que sem palavras, a frequentar as reuniões e a tentar praticar as sugestões contidas em seu programa de recuperação, através dos 12 Passos.
Para ajudar as famílias que também são afetadas pelo alcoolismo existem os Grupos Familiares Al-Anon para adultos e Alateen para crianças e jovens até 21 anos, que tiveram origem em Nova York, nos Estados Unidos, e hoje estão presentes em mais de 100 países, totalizando cerca de 30 mil grupos em todo o mundo.
No Brasil, o Al-Anon existe desde 1965 e conta com mais de mil grupos para ajudar os familiares de alcoólicos que são afetados pela doença, pois, enquanto a obsessão do alcoólico é pela bebida, a obsessão dos familiares é controlar o uso dela. E essa situação afeta toda a família pela ansiedade, raiva e sentimentos de culpa que ocasiona.
As reuniões de Al-Anon ajudam outros familiares a encontrar a compreensão e recuperar a harmonia, pois todos seus frequentadores sabem o que é conviver com a incerteza e a insegurança que o alcoolismo traz.
Revista CompanySul - Ano 03 - Edição 29 - Setembro de 2009

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