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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

FÉ , CORAGEM E A BICICLETA!

 

 

"O grande sonho de estar presente ao maior Evento Regional de A.A. aliado à fé, à perseverança e à coragem, o levou a dar um grande exemplo de participar e conviver com irmãos."

A. J. é de Bananeiras, Paraíba, hoje tem 61 anos de idade e reside em Natal, Rio Grande do Norte, há 30 anos.

Está acostumado a se deslocar para eventos de A.A., dentro do estado, usando a sua bicicleta. Desse modo, dizia a seus companheiros que iria ao XVII Seminário de A.A. da Região Nordeste, em João Pessoa, utilizando o seu meio de transporte. Os seus companheiros não acreditaram muito, mas se surpreenderam quando o viram em João Pessoa, no dia 25 de novembro. É que A.J. é vendedor ambulante e, ganhando pouco, só poderia mesmo ter chegado de bicicleta, e não deu outra. A. havia saído às cinco da manhã de Natal e chegado a João Pessoa às duas da tarde. Havia pedalado por onze horas e feito pequenas paradas para comer alguns cajus, retirados diretamente dos pés, à beira da estrada. Fizera um pequeno lanche em Mamanguape, já na Paraíba, quando eram duas da tarde. Para beber água havia parado duas vezes, sendo uma na cidade de Goianinha e chegou ao destino apenas com a virilha queimada, conforme o seu dizer, e mais nada, após percorrer mais de 200 km. Disse que gosta de andar de bicicleta e a prefere ao cavalo ou burro porque não sacode e que, para fazer a viagem, foi suficiente usar óculos escuros para se proteger do sol intenso. O resto foi contar com a sua forma física e com a fé que tem em Deus.

Durante a viagem, teve duas situações de perigo. Uma delas ocorreu quando passou por ele uma carreta. Na passagem em si, tudo bem, mas depois que passou a carreta o "sugou" e ele se sentiu sendo arrastado. Foi surpreendido e teve medo de tombar. É que A.J. sentira o efeito que os corredores de automóvel tanto apreciam, que é o vácuo, que os levam para velocidades maiores, independentemente do motor. Amaro gostou da coisa, mas inesperada que foi, o assustou e deu medo. A outra situação de risco ocorreu quando derrapou nas pedrinhas de um acostamento em declive e a bicicleta tombou, mas ele conseguiu sair do tombo e ficou de pé. Aí os cortadores de cana que estavam próximo gritaram e o chamaram de "velho rápido".

Relatou também que se a bicicleta sofresse alguma avaria, a idéia era ir empurrando a máquina até a próxima cidade, o que pareceu simples para ele mas isso seria um grande desafio para qualquer um de nós, com esta idade.

Acresce ainda que eram poucas as cidades existentes no caminho, apenas seis pequenas cidades: Parnamirim, São José do Mipibu, Goianinha e Canguaretana, todas no Rio Grande do Norte; Mamanguape, onde na descida de uma pequena serra levou o susto do vácuo da carreta e Bayeux, essas últimas na Paraíba. Para situações de avaria na bicicleta, contava apenas com umas poucas ferramentas.

O grande sonho de estar presente ao maior evento regional de A.A., que é o Seminário, e de desfrutar da companhia dos companheiros e amigos, aliado à fé, à perseverança e à coragem, o levou a dar um grande exemplo do desejo de participar, de conviver com irmãos.

Seu padrinho M. diz que ele hoje é um ser humano renovado pelo despertar espiritual e que, apesar de A. o chamar de "padrinhão", ele se sente estimulado pelos exemplos de recuperação que o A.J. lhe dá, de tal forma que M. considera que A.J. é que é o seu padrinho, realmente.

Mas A. não ficou só nisso. Tendo dado um exemplo de fé e de coragem na ida para o Seminário, deu outro exemplo, o de humildade, ao aceitar que os companheiros de Natal o levassem de volta de ônibus, incluindo a bicicleta. Não lhe ocorreu a idéia de se exibir fazendo a volta de bicicleta e de exibir um ego que poderia ter sido exaltado pela proeza que havia realizado.

Humildemente, aceitou voltar com os companheiros e, desse modo, ofereceu mais um exemplo, mostrou mais um aspecto da boa qualidade da sua recuperação.

Laís/Rio de Janeiro/RJ            Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

terça-feira, 28 de agosto de 2012

CONVITE 16 ANOS DO GRUPO UNIÃO E FÉ DE N/A



Repassando!
 


ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
GRUPO ARAÇÁS
Rua Caracas, 103 - Araçás - Vila Velha - ES - CEP: 29103-540
Reuniões: Segunda, terça, quarta e sexta 19:30h.
(Próximo ao Maderauto Material de Construção)


INVENTÁRIO DIÁRIO

Responda com sinceridade, é para você mesmo.

 

O propósito deste inventário diário é uma auto-avaliação e só por hoje nossos pensamentos estarão concentrados em nossa recuperação. Seguem as perguntas:

1) De que maneira agi diferente hoje?

2) Estive com a cabeça fora do programa dos Doze Passos? Como?

3) O que fiz hoje que não correspondeu ao meu propósito no programa?

4) O que eu gostaria de ter feito hoje no meu programa e não fiz?

5) Hoje foi bom para mim?

6) Procrastinei hoje?

7) Tive inveja?

8) Tive preguiça?

9) Menti?

10) Pensei em luxúria?

11) Tive gula?

12) Hoje foi um bom dia?

13) Tive serenidade?

14) Admiti minhas impotências?

15) Fui capaz de confiar em Deus (Poder Superior)?

16) O que aprendi hoje sobre mim mesmo?

17) Fiz reparações hoje?

18) Admiti meus erros?

19) Prejudiquei alguém ou a mim mesmo?

20) Estou disposto a mudar?

21) Hoje o importante foi dar continuidade ao programa?

22) Estive consciente de meus erros?

23) Fiz minha espiritualidade consciente e buscando o Poder Superior?

24) Senti medo?

25) Senti alegria?

26) Tive algum sentimento que não tenha sido relacionado neste inventário?

Recomenda-se que esse exercício seja feito no término da jornada diária e acompanhado de uma boa espiritualidade.

Responda com sinceridade, é para você mesmo.

Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

IRMANDADE SEM FRONTEIRAS

“Sou portador da doença do alcoolismo e meu lugar é em um grupo.”

Venho através desta demonstrar minha satisfação em ser assinante da revista Vivência. Sou militar da Marinha do Brasil e por várias vezes estando em viagem, no navio em que servia na época, a Revista foi a minha reunião particular.

Sempre que saía do serviço e estava em horário de folga, eu me recolhia no camarote e ficava deitado lendo a Revista. Esse hábito me foi muito importante, visto que na minha época de ativa, sempre que o navio atracava nos portos eu saía direto para as farras e bebedeiras. No inicio da minha caminhada a Revista teve sempre um papel importante me alertando de que sou portador da doença do alcoolismo e que meu lugar é em um grupo.

E depois que adquiri o hábito da leitura e especialmente da Vivência, sempre que o navio chegava em um porto eu procurava saber qual o grupo mais próximo, para que eu pudesse ir até lá trocar experiências e também fazer novas amizades.

Um detalhe que devo ressaltar é o fato de que por várias vezes, eu chegava em algum porto e não sabia onde encontrar um grupo; então, eu ligava para o ELS que se encontrava na revista e sempre fui prontamente atendido. As informações me eram passadas de forma rápida e correta. Por isso o fato importantíssimo dos grupos terem seus dados sempre atualizados nos seus ELSs.

Outra experiência fantástica foi a de que sempre que chego em algum lugar onde me apresento e me informo que sou de outra cidade / Estado e estou visitando o local, a companheirada sempre tem um acolhimento especial. Trocamos cartões de grupos e informações sobre Alcoólicos Anônimos, e evidentemente as nossas forças e esperanças em dias melhores.

Obrigado, Vivência, por estar comigo nos primeiros passos de minha caminhada e por estar me apadrinhando até os dias de hoje.

(Luiz Alberto, RJ)             VIVÊNCIA N°. 86 – NOV/DEZ. DE 2003. Colaboração,           Grupo Carmo Sion de AA

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

OS ANTIGOS


 

 

Costuma-se dizer que em A.A. não se conta tempo, o que é sumariamente errado.

Em A.A., o tempo é que não conta, e o simples fato de você se julgar “antigo” não quer dizer que esteja curado e deva lavar as mãos e entregar aos outros todas as tarefas de A.A. Lembre-se de que o nosso programa é de apenas vinte e quatro horas, mas que se renovam pela vida toda.

Não confunda abstinência com sobriedade, e o simples fato de você ser “antigo” não quer dizer que esteja sóbrio.

Sobriedade é um estado de espírito, o qual não se consegue apenas parando de beber. Para consegui-la, três virtudes são necessárias: HUMILDADE, SERENIDADE E FÉ. Todas se praticam e há muitos membros antigos que não possuem nenhuma delas.

Lembre-se de que o abstêmio tumultua, o sóbrio tranquiliza.

Justino P. Goiânia – GO                   VIVENCIA N°. 29 MAI/JUN DE 1994          Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

terça-feira, 21 de agosto de 2012

BEM RECEBIDO E BEM INFORMADO!

Ao ingressar em A.A. recebi algumas informações preciosas que relembro agora com vocês. Fui informado que:

1. O alcoolismo era uma doença física (o que não contestei, já que estavam se manifestando em mim evidentes sintomas físicos da doença).

2. Que era uma doença mental (o que também aceitei, já que estava evidente que sob o efeito do álcool eu ficava louco, agindo de forma incompatível com os meus princípios e a minha razão).

3. Que era uma doença espiritual (e, apesar de ser, à época, ateu... eu aceitei a hipótese na base da boa vontade).

4. Que o doente manifestava compulsão pela bebida (e era verdade no meu caso, eu começava a beber de repente... num impulso... sem querer... a compulsão seria isso, não ter controle sobre o começar a beber...).

5 Que o doente era vítima de uma obsessão mental (e no meu caso também era verdade, quando eu não estava bebendo estava planejando beber, ou parar de beber, mas meu cérebro estava sempre girando ao redor da garrafa).

6. Que o doente negava a sua doença (o que também era verdade no meu caso, nunca admiti que ninguém se manifestasse sobre minha forma de beber).

7. Que a doença era progressiva (o que também era verdade no meu caso, eu estava cada vez mais afetado pelo álcool).

8. Que era incurável (e aí eu tive que acreditar no que me diziam, mas a minha experiência fazia com que eu admitisse que poderia ser verdade, eu havia perdido o controle sobre a bebida e não conseguia recobrá-lo).

9. É de término fatal, ou seja, que um alcoólico como eu só iria parar de beber morto (ou talvez internado num manicômio eficiente ou num presídio mais ou menos organizado, porque ainda ali - num hospício ou na cadeia - eu iria continuar bebendo até morrer, se tivesse chance).

Apesar de serem péssimas notícias, eu não fiquei muito desesperado com elas, já estava num ponto em que a bebida me desesperava mais do que qualquer outra coisa no mundo. Eu estava num ponto em que não conseguia mais beber, nem parar de beber, eu era simplesmente levado e percebia que qualquer coisa poderia acontecer comigo e não seria surpresa nem para mim nem para ninguém.

Reparem bem, para chegar a esse ponto eu nunca dormi na rua, nunca fui preso, nem internado por doença alguma. Mas não ficaria surpreso que uma dessas coisas viesse a ocorrer comigo. Assim, quando algumas pessoas me falaram que isso havia ocorrido com elas, eu não me choquei muito, era bom saber que isso poderia ocorrer e era melhor ainda pensar que eu poderia evitar que viesse a ocorrer comigo.

Eu recebi os fatos sobre o alcoolismo de viva voz, de pessoas que haviam vivido a experiência de beber como eu bebia então... e essas pessoas haviam saído do inferno onde eu estava, algumas haviam saído de infernos piores do que o meu e eu queria saber como fora possível para elas, e se seria possível para mim.

Naquele momento não me importei nem um pouco com o fato de estarem na sala pessoas com níveis sociais, econômicos ou culturais acima ou abaixo do meu próprio... Isso era para mim mais uma evidência de que se tratava de uma doença, tal como as doenças "de verdade" (gripe, câncer, diabetes, etc.) o alcoolismo não fazia distinções desse tipo.

Na verdade, naquele exato momento, todos naquela sala me pareciam melhores e mais espertos do que eu: eles sabiam viver sem a bebida e eu não sabia.

Vieram então as boas notícias e a primeira era a de que a doença poderia ser paralisada em sua lenta progressão até a minha morte.

E que para isso não era preciso parar de beber para sempre, mas por apenas vinte e quatro horas!

Eu quase caí da cadeira... parar por vinte e quatro horas, só!

A primeira revolução efetiva que os companheiros de A.A. me propuseram foi a de parar de beber só por vinte e quatro horas.

É evidente que eu já havia pensado e desejado parar de beber para sempre, mas sempre era um tempo grande demais para o tamanho da minha força de vontade, que era pequena demais no que se referia a parar de beber.

Depois de um porre qualquer, eu, sempre, decidia que iria dar um tempo (uns meses, umas semanas, uns dias), mas eu mal conseguia ficar horas sem beber.

Achei de tamanho adequado à minha fraqueza o compromisso de ficar sem beber só por vinte e quatro horas.

É claro que eu sabia que aquelas pessoas já estavam há muitas vinte e quatro horas sem beber e é óbvio que eu também era capaz de compreender que aquelas vinte e quatro horas deveriam ser seguidas de outras mais indefinidamente, mas eu compreendi muito claramente que não deveria me preocupar com o dia seguinte, mas só com o dia de hoje.

Os companheiros que estavam naquela sala foram muito enfáticos em me explicar que, tal como eu, eles também ficaram cansados de tentar parar de beber a partir de amanhã, que amanhã ainda não existe e ontem já passou e que, portanto, só existe o dia de hoje... e assim por diante foram colocando argumentos e mais argumentos a favor da tese das vinte e quatro horas em oposição ao nunca mais...

Mas o que me impressionou foi algo que um companheiro disse. Ele enfatizou que decorridos 4 anos sem bebida ele ainda sentia, eventualmente, desejo de beber. Quando esse desejo era imenso, o que ele fazia era dizer para si mesmo que iria beber até cair... no dia seguinte, amanhã, quando esse dia chegava, se transformava em hoje, e como ele não queria beber só por hoje, ele ia driblando o seu desejo dia após dia sem grandes sofrimentos (só para registro, esse companheiro ainda faz parte da nossa Irmandade, já completou 14 anos de sobriedade contínua e não sente mais, há alguns anos, desejo de beber).

Era simples, mas uma revolução completa na minha forma de pensar. Tudo o que eu deveria fazer era uma pequena troca no meu calendário... o que antes eu fazia só por hoje (beber) eu passaria a fazer amanhã e o que eu faria amanhã (parar de beber) eu passaria a fazer só por hoje.

Parar de beber só por vinte e quatro horas era muito mais fácil do que parar de beber para sempre e eu comecei a achar que poderia dar certo, mas a questão era que eu estava bebendo todos os dias há 10 anos (eu tinha 31) e estava bebendo desde que acordava, há pelo menos 5 anos...

Sem dúvida era mais fácil parar de beber por vinte e quatro horas do que para sempre... mas no meu caso, mesmo vinte e quatro horas pareciam ser toda a eternidade e eu tinha medo...

Os companheiros então resolveram me dar sugestões de ordem prática.

De cara me sugeriram comer doces, caso não fosse diabético, e me explicaram que a ingestão de refrigerantes e doces (açucar) me ajudaria a amenizar a compulsão física pelo álcool. Antes que eu pudesse dizer que eu não gostava de doces, quase todos me relataram que, quando bebiam, também pensavam, como eu, que não gostavam de doces, mas que depois haviam descoberto que a rejeição aos doces era uma das pequenas conseqüências do alcoolismo (o álcool e o açucar são "primos", substâncias altamente calóricas e uma grande ingestão de uma, satura o organismo de calorias e diminui o desejo pela outra...).

Na mesma linha insistiram para que eu mantivesse o aparelho digestivo cheio todo o tempo, mesmo que fosse à custa de passar todo aquele primeiro dia beliscando coisas, e me alertaram que, dali por diante, uma alimentação regular deveria fazer parte de minhas preocupações (como eu sou do tipo magro, muito magro, até hoje tenho dificuldade em regularizar minha alimentação).

Insistiram que eu deveria dormir satisfatoriamente, que insone eu estaria à mercê de uma compulsão repentina pela bebida, sem acuidade mental necessária para enfrentar a pressão da doença.

Finalmente me disseram que eu não deveria, em hipótese alguma, naquelas primeiras vinte e quatro horas, ir a qualquer lugar onde estivesse acostumado a beber. "Evite os lugares da ativa", me disseram...

No campo mental me sugeriram que fixasse na mente o meu compromisso de ficar sem beber só por vinte e quatro horas, nada mais.

No campo espiritual... Bem, no campo espiritual estava ocorrendo uma verdadeira revolução dentro da minha cabeça, algo de muito importante estava acontecendo desde a véspera deste primeiro dia e eu vou ter que contar por partes porque foi tudo muito, muito significativo para mim e os detalhes estão gravados no meu cérebro, como se fosse uma tatuagem na carne.

Eu não sei se vocês ainda estão lendo, nem mesmo sei se estarão gostando ou detestando, mas vou continuar escrevendo. Aprendi em A.A. que pode ser, mas não é muito provável que eu consiga ajudar alguém com minhas palavras, mas que eu sempre vou conseguir me ajudar contando a minha história, e como pelo menos eu quero continuar por mais vinte e quatro horas sem beber, eu vou continuar.

(ARMANDO, Rio de Janeiro/RJ) Vivência nº 60 - jul/ago 1999             Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

domingo, 19 de agosto de 2012

SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL - ALCOOLISMO

 

Dr. Laís Marques da Silva

Ex-custódio e Ex-presidente da JUNAAB

Em Alcoólicos Anônimos o que importa não é o alcoolismo, mas sim o alcoólico. Não se fazem estudos ou pesquisas sobre o alcoolismo mas dedicam-se todas as atenções e cuidados às pessoas que sofrem dessa doença. É o ser humano, é o doente que importa.

Além do mais, a Irmandade resolve o problema do diagnóstico de uma forma adequada. Ninguém faz diagnóstico, ninguém rotula ninguém mas, depois de algum tempo de convivência com membros do grupo de A.A. e chegando às suas próprias conclusões diante do que viu e ouviu nas reuniões, é o próprio alcoólico que decide ser ou não um membro do grupo e é também ele quem diz se é ou não um alcoólico. Mas as pessoas, depois de passarem por tratamentos médicos e ao se reconhecerem como alcoólicos, passam, como é natural, a ter um interesse, uma curiosidade em relação à sua doença. Desejam conhecer um pouco a cerca do alcoolismo.

A palavra alcoolismo foi usada pela primeira vez em 1849 pelo médico sueco Magnus Huss no seu trabalho “Alcoolismo Crônico”, expressão essa que se tornou o modo corrente de tratar os que apresentavam embriagues habitual, chamados a partir daí de alcoólatras, alcoólicos ou alcoolistas. Bebem repetida e excessivamente bebidas alcoólicas com prejuízos para si mesmos e para outras pessoas sendo que os danos se expandem para áreas tão diferentes como mentais, econômicas, sociais, legais, etc..

Por ser o controle voluntário muito pequeno e o beber compulsivo, o alcoolismo é considerado como adição e como doença. Daí que, numa visão simples, é tido como sendo a doença que resulta do beber compulsivo e crônico.

No entanto, do ponto de vista farmacológico e fisiológico, o alcoolismo é entendido como uma adição química que leva à necessidade de beber doses crescentes para produzir os efeitos desejados ou aliviar o desconforto da abstinência e que pode resultar na síndrome de abstinência quando esse beber é interrompido. Mas, diferentemente da adição que ocorre pelo uso de outras drogas, nem sempre o alcoólico necessita de doses crescentes da substância. Por outro lado, o alcoólico desenvolve graus variáveis e baixos de tolerância ao álcool de modo que a dose letal, aquela que leva à morte, só ocasionalmente pode ser alcançada ou ultrapassada.

Do ponto de vista do comportamento, o alcoolismo é uma desordem em que o álcool se torna muito importante na vida de uma pessoa que experimenta a perda de controle em relação ao seu beber. Aí, com dependência ou não, o consumo do álcool é suficientemente intenso para causar problemas físicos, mentais, sociais, econômicos, legais, etc. A desordem é entendida como doença porque persiste por anos, é fortemente hereditária, progressivamente incapacitante e importante causa de morte. O álcool compromete a livre decisão de beber ou não e de quando parar. Ainda, diferentemente da maioria dos maus hábitos, a força de vontade vale pouco em relação ao álcool.

Do ponto de vista sociológico, o alcoolismo é tido como um desvio social mas, ele deveria desaparecer com a maturidade, como ocorre em muitas outras formas de desvio social, mas isso não acontece com o alcoolismo. Como é quase impossível submeter todo um grande grupo de indivíduos e a estes o entendimento do alcoolismo, pode ficar por conta da quantidade e da frequência em que é ingerido, pelo número de internações relacionadas ao álcool, pela frequência de mortes por cirrose ou por prisões decorrentes de mau comportamento relacionado com o uso de álcool.

É preciso ainda discernir três condições diferentes: o uso do álcool, o abuso e a dependência. Abusa do álcool aquele que tem um comportamento social desviante em relação ao seu consumo, que bebe regularmente e, o mais importante, que apresenta problemas de saúde, além de sociais e/ou profissionais em consequência da ingestão do álcool. O abuso pode evoluir para a dependência e aí encontraremos a compulsão para a ingestão de álcool a fim de experimentar os seus efeitos ou para evitar o desconforto da sua falta. Aqui, na dependência, também são importantes os componentes sociais e comportamentais, mais ainda, os componentes biológicos e psíquicos traduzidos na tolerância e na compulsão, respectivamente. Nos conceitos de abuso do álcool e na síndrome de dependência do álcool está o que é entendido por alcoolismo. A psicose alcoólica, a cirrose hepática, a gastrite alcoólica, etc., ficam como complicações. Em rápidas palavras, beber sem problemas traduz o beber social, beber com problemas se constitui no abuso do álcool e beber com problemas e apresentando a dependência química caracteriza a Síndrome de Dependência do Álcool.

Acontece que um alcoólico na ativa pode procurar um médico porque está tendo problemas sexuais e para ele, alcoolismo pode ser a perda de potência. Para a sua mulher, que foi espancada, o alcoolismo está ligado ao espancamento. Quando, por essa razão, ela o leva ao hospital e lá o médico faz vários testes e as provas de funções hepáticas se mostram alteradas, a enzima gama glutamil transferese se encontra elevada e o volume dos glóbulos vermelhos está aumentado, o médico o considera um alcoolista em face do quadro clínico e dos exames complementares realizados. Já um pouco melhor, no dia seguinte, o paciente sai dirigindo alcoolizado e os vizinhos dizem que ele é um alcoólico porque dirige alcoolizado. Então, afinal, o que é o alcoolismo?

Do ponto de vista da quantidade de bebida consumida, uma pessoa com 100 quilos pode beber uma grande quantidade de bebida alcoólica sem apresentar muitas manifestações, mas a mesma quantidade de bebida seria catastrófica para uma pessoa com pouco peso e epilética ou ainda para um piloto de avião com uma úlcera no estômago. Um taberneiro francês que beba mais de dois litros de vinho por dia pode não ser considerado um alcoólico pelos seus parentes e amigos próximos, mas será visto como portador de alcoolismo por um membro da família que seja israelita. Então o que vale não é a quantidade da bebida ingerida mas os sintomas que resultam.

Por outro lado, uma pessoa pode ter um problema emocional e passar a beber diariamente por um tempo e ficar preocupada com o alcoolismo enquanto que outra pessoa pode beber despreocupada pela vida a fora até que surja uma grave insuficiência hepática. Quem bebe, por algum problema específico, frequentemente permanece capaz de controlar o uso do álcool, embora relate uma dependência psicológica, o que não ocorre com as pessoas que abusam do álcool.

Para complicar ainda mais as coisas, uma pessoa que estude a literatura sobre o alcoolismo fica com a ideia que ele é também um problema econômico, psicológico, fisiológico ou ainda social, isso para excluir outros aspectos do problema.

A Organização Mundial de Saúde declarou que o alcoolismo é doença em 1951 ou, mais exatamente, certas formas de alcoolismo. Mas, de modo oficial, também declararam que o alcoolismo é uma doença as seguintes associações: a Associação Médica Americana, a Associação Americana de Psiquiatria, a Associação Americana de Saúde Pública, a Associação Americana de Hospitais, a Associação Americana de Psicologia, a Associação Nacional de Assistentes Sociais e o Colégio Americano de Médicos.

A dependência do álcool pode ser tomada como sinônimo de "adição alcoólica", como"dependência fisiológica", como o alcoolismo gama de Jelinek ou ainda e simplesmente entendida como alcoolismo.

Os critérios médicos para definir a doença do alcoolismo se baseiam nas complicações médicas e nos sintomas resultantes do beber, enquanto que os problemas sociais são mais enfatizados em outras classificações. O fato é que existe uma forte correlação entre a síndrome de dependência do álcool e as incapacidades sociais que ele ocasiona. Os parâmetros que definem o modelo médico têm correlação com os desvios sociais. Isso quer dizer que médicos e sociólogos estão falando da mesma síndrome. No entanto, nem sempre a abstinência do álcool se acompanha da recuperação social. O alcoolismo não é só um problema médico em si mas também inclui todo um conjunto de situações que resultam do beber continuado.

Mas como penetrar nesta floresta, que linhas e direções podem facilitar a compreensão do que seja alcoolismo? Talvez a ideia mais fácil e curta seja a do Conselho Nacional de Alcoolismo dos Estados Unidos da América do Norte: "A pessoa portadora de alcoolismo não pode, de maneira segura e consistente, predizer, em qualquer ocasião em que beber, o quanto vai beber e durante quanto tempo".

Como veremos em seguida, não é a especificidade de um problema que define o que é entendido como alcoolismo mas sim o número e a frequência dos problemas relacionados com o uso do álcool. De uma maneira geral, todos os sintomas têm igual valor. Em outros termos, o diagnóstico do alcoolismo é feito pela variedade dos problemas relacionados com o álcool e não pela especificidade dos problemas. Nenhum sinal ou sintoma define, isoladamente, o alcoolismo.

As coisas ficam mais claras quando abordamos a síndrome a partir dos estudos do Prof. Dr. Griffith Edwards,da Universidade de Londres, que propôs uma descrição da síndrome a partir de sete parâmetros:

1. empobrecimento do repertório,

2. maior importância da bebida,

3. aumento da tolerância ao álcool,

4. aparecimento da síndrome de abstinência,

5. prevenção ou alívio da síndrome de abstinência pela ingestão de mais bebida,

6. percepção subjetiva da compulsão para beber   e

7. reinstalação do quadro após um período de abstinência.

 

1. O empobrecimento do repertório se traduz em ir fixando o tipo de bebida, a frequência, as ocasiões em que é ingerida, em de beber mais rapidamente e em quantidades maiores a ponto de esse fato ser notado pelas pessoas mais próximas, em beber sozinho.

2. O beber vai ganhando prioridade maior em relação às atividades com a família e com os amigos, em relação à vida profissional e ao próprio corpo. As outras fontes de gratificação vão esmaecendo e a bebida vai ficando cada vez mais importante. O comportamento vai mudando em função da bebida. Trajetos organizados, frequência compromissos sociais em que se faz uso da bebida alcoólica, etc..

3. Em consequência do aparecimento da tolerância, doses cada vez maiores são necessárias para alcançar os mesmos efeitos desejados. Com as doses maiores, vêm também efeitos tóxicos mais intensos. Há casos de dependência avançada em que ocorre o fenômeno inverso, isto é, o paciente se embriaga com doses pequenas, que antes eram bem toleradas.

Estes três parâmetros se instalam ao longo do tempo.

4. A síndrome de abstinência talvez seja a mais importante manifestação da dependência. Nela ocorrem, ao acordar, usualmente pela manhã: tremores, suores, náuseas acompanhadas ou não de vômitos, ansiedade, agitação, etc. Nos casos mais severos, o paciente pode sofrer alucinações auditivas e visuais ou ainda apresentar convulsões e evoluir para o quadro de "delirium tremens”. A síndrome da abstinência revela a condição de dependência em relação ao álcool e se instala em função dos níveis baixos de álcool no sangue, sendo essa a razão pela qual costuma aparecer pela manhã, ao despertar, após serem passadas algumas horas sem a ingestão de bebidas.

5. Os sintomas de abstinência podem ser evitados ou aliviados pela ingestão de mais álcool. É o gole matinal.

6. Compulsão para beber. É entendida como sinônimo de perda de controle. Pode haver uma perda de controle ou uma desistência do controle.

7. A reinstalação, após um período de abstinência, implica na volta rápida do quadro de tolerância ao álcool. Isso pode ocorrer após anos de abstinência. Quanto maior o grau da dependência anterior, mais rápida é a reinstalação da tolerância. É uma espécie de "memória bioquímica” que permanece no organismo. É como se diz em A.A., o doente recomeça de onde terminou.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

De que cor é a sua sobriedade?

 

Quando tinha três meses de sobriedade e após lutar por muito tempo contra o alcoolismo, o estresse e a tensão em minha casa eram insuportáveis. Temia fracassar no meu casamento, perder meu lar e minha segurança, mas estava disposta a fazer tudo o que fosse possivel e necessário para manter-me sóbria. Tinha meu marido, com o qual estava casada há quinze anos, e dois filhos (de seis e de nove anos). Porém, o silêncio do meu esposo e o distanciamento que sentia dos meus entes mais queridos eram horríveis. Eu não sabia se a recuperação, que era tão boa para mim, seria boa também para eles.

Estava terminando de assistir a minha nonagésima reunião em noventa dias, e ia em direção a uma reunião de mulheres, querendo que a minha família me apoiasse e ajudasse a encontrar o que chamamos de recuperação. Senti-me culpada por sair de casa nessa noite, depois de lavar os pratos sujos do jantar. Meus filhos me puxavam pela manga para que jogasse com eles, ou lesse uma história, ou fizesse qualquer coisa, contanto que não os deixasse sozinhos. Então, eu os imaginava com o meu marido, assistindo televisão num estado comatoso ou de torpor. Eu queria tanto que eles conhecessem o amor que eu sentia nas reuniões, que eles houvissem como honestamente compartilhávamos nossas experiências, que sentissem o que sentem as famílias unidas. Meu marido não acreditava que eu fosse uma alcoólica, acreditava apenas que eu bebia em demasia e que se não bebesse tanto me sentiria melhor. Ele não entendia o alcoolismo. Não queria saber de nada a respeito do Al-Anon ou de ler os panfletos sobre os cônjuges. Sua recusa era profunda.

Naquela noite em particular, cheguei em casa me sentindo tranqüila, como se houvessem tirado uma carga dos meus ombros - como geralmente me sinto após uma reunião de A.A. Minha filha de seis anos então chegou correndo, saltou nos meus braços e pôs as pernas em torno de minha cintura. Disse: "Mamãezinha, de que cor são essas salas aonde você vai?"

Pensei por um minuto e acreditei me lembrar que eram verdes, mas respondi com outra pergunta: "De que cor você imagina que elas são?"

- "Amarelas!", exclamou.

- Perguntei então para ela: "Por que você acha que são amarelas?"

Sua resposta mudou o curso da minha recuperação. Sem pestanejar ela respondeu: "Porque você sempre volta para casa radiante e fulgurante!"

- Sim, isso é o que ela via, então valia a pena. A luz do espírito brilhava através de mim e minha filha podia vê-la. Essa foi uma das primeiras demonstrações que recebí da minha família.

Posteriormente, confirmei que a sala onde estivera naquela noite era verde. Por um tempo não pude voltar a esse grupo, mas, seis meses depois, pediram-me que compartilhasse minhas experiências lá. Entrei na mais acolhedora sala pintada de amarelo que se possa imaginar e, imediatamente, sentí um calafrio, que agora chamo de "despertar espiritual". Compartilhei minha experiência, força e esperança, com amor transbordando do meu coração, com aquelas formosas mulheres em recuperação.

Essa história se transformou numa parte da minha recuperação. Tudo isso ocorreu faz muito tempo, contudo, assisto de três a quatro reuniões por semana, porque ainda desejo a recuperação e estou muito agradecida. Estou me recuperando de uma enfermidade aparentemente incurável, e não tenho sentido a necessidade de beber desde o dia 13 de setembro de 1979. A minha querida filha já é uma mulher, porém, é uma filha que me dá o seu amor.

(La Viña, setembro/outubro de 1999)           Vivência nº 65 - maio/junho 2000        Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Do copo ao sorvete

Não deixe de ler a história de uma recaída.

Aparentemente estava tudo bem, mas ele voltou a beber.

Muitas vinte e quatro horas de sobriedade já haviam se passado. Sentia-me bem comigo mesmo, feliz da vida, sem compulsões, tranqüilo, sereno com a minha família e também junto aos que me são caros, principalmente junto ao meu grupo, onde desfrutava prazerosamente do convívio, do carinho, da amizade e do respeito de todos os companheiros indistintamente. Eram meus amigos, meus psicólogos, meus psiquiatras, meus confessores e mais do que tudo isso, eram meus irmãos e eu os amava. Freqüentava regularmente as reuniões, e dentro de minhas limitações procurava participar de tudo o que pudesse enriquecer e valorizar a minha recuperação.

Porém, a minha autoconfiança e auto-suficiência começaram a perturbar o meu sono, meus sonhos, a inquietar-me, a sugerir-me coisas que paulatinamente eu ia aceitando, contestando às vezes, porém, sem muita convicção. Foi então que o orgulho e a prepotência falaram mais alto. Essa minha volta ao copo não aconteceu em um momento impensado ou de fraqueza, levado por circunstâncias muito fortes ou situações imprevisíveis que proporcionassem uma justificativa, mesmo que covarde, para voltar ao primeiro gole. Nada disso. Simplesmente a mente doentia e calculista de um alcoólico achava que todo aquele tempo de "vivida" sobriedade fora suficientemente longo para reeducar-se, para auto-administrar sua "suposta" força de vontade e entender que: "Agora sim, posso voltar a beber socialmente". E assim, infelizmente, aconteceu. A doença é progressiva e por isso mesmo a cada dia mais aumentavam as doses que alimentavam a minha embriaguez constante, que se estendia diuturnamente.

Desnecessário seria relatar as terríveis conseqüências morais, físicas e espirituais oriundas de uma recaída. O abandono completo à sala. Não mais ouvir dos companheiros palavras de fé, esperança, relatando vitórias, conquistas, paz, serenidade e agradecimento a Deus. A vergonha e o orgulho fizeram com que eu simplesmente me escondesse dos companheiros. Vivia tenso, temeroso na expectativa de que, de um momento para o outro , poderia encontrar-me com alguns deles.

Lembro-me muito bem. Meio-dia de sábado. A mercearia servia bebidas no balcão. Eu estava talvez no terceiro copo. O vendedor de produtos adentra à loja aproximando-se do balcão para a entrega da mercadoria vendida. "Oi, cara, como vai? Tudo bem contigo?" "Tudo bem", respondi, já com a voz rouca e murmurante. "Até mais ver", e saí apressadamente, deixando para trás copo cheio, garrafas, salgadinhos e uma conta para pendurar. Minha face enrubesceu tanto que parecia queimar. Minhas pernas, estas eu não mais as sentia. Queria morrer naquele momento, pois na minha frente estava o meu amigo, o meu companheiro de grupo que devido ao anonimato vou chamá-lo de Luiz. Era a primeira vez que eu via o Luiz fora da nossa sala de A.A.

Mais dias. Mais meses se passaram, muitos copos, muita bebida, muito álcool. Sofrimentos, angústias, autopiedade, fraqueza, tudo somava e se agigantava em meu cérebro doentio de alcoólico, fazendo-me beber cada vez mais. Foi numa daquelas manhãs que eu ainda não tinha bebido o primeiro gole antes do café, que tudo aconteceu. O interfone tocou. Disseram-me que alguém me chamava da entrada do prédio. Lá encontrei o Luiz juntamente com outro companheiro, que pelo mesmo anonimato eu o chamo de Doreli.

Fiquei cara a cara com os dois amigos, que sutil, humilde e sabiamente exerciam a abordagem, inspirados pelo Décimo Segundo Passo. Ouvi tudo, calado, sem rancores ou justificativas, mágoas ou irritações. Ao se despedirem, emocionado eu agradeci. Porém, novamente o orgulho e a vergonha de retornar à sala impediram temporariamente o meu reingresso, que aconteceu somente muito tempo depois, numa pequena cidade do Espírito Santo, onde passei as férias.

Hoje estou novamente integrado de corpo e alma ao meu grupo de origem, junto aos amigos que tanto prezo e aos quais agradeço a minha recuperação diária. Antes das reuniões, nós nos divertimos muito. Contamos piadas, resolvemos todos os problemas sociais, políticos, econômicos e futebolísticos. Algum tempo atrás, pouco antes do meio-dia, sol escaldante, eu estava na calçada em frente a uma máquina de fazer sorvetes, degustando um desses sorvetes enormes, misto de creme e chocolate. Eis que vejo um companheiro caminhando apressadamente, trazendo debaixo do braço uma daquelas pastas de executivo.

"Oi cara!", falei. "Vai um sorvete aí?" "Não, obrigado", respondeu, "estou com muita pressa. Fica pra outra vez". Era a terceira vez que eu via esse companheiro fora de nossa sala de A.A. Era o Luiz...

(Renato, Balneário Camboriú/SC)             (Vivência - Maio/Junho 2002)                     Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O ÁLCOOL LEVA PARA PRISÃO


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O Sobrionauta...


 

"Este pequeno balanço eu ofereço para publicação na revista VIVÊNCIA"

Não sou ainda um internauta, mas já sou um sobrionauta que conseguiu fazer, até o momento, muito mais do que considerava capaz e muito menos do que pretendia. Acredito que o benefício foi maior que o sacrifício.

Comecei na Internet achando que era um sacrifício (a vista fraca, a pouca compreensão das novas técnicas e métodos, tudo era muito caro e demorado, meu pavio estava curto e minha intolerância queria botar pra quebrar). O começo foi em setembro de 1998, após o convite do Xavier e da insistência de meus filhos para usar essa moderna ferramenta de comunicação. Eu tive um micro, mas havia sido roubado e em janeiro de 1998 comprei outro, melhor configurado e que utilizei com novo ânimo e melhores resultados na elaboração dos roteiros das temáticas que faço nos grupos.

Hoje completei o recebimento de 3.555 mensagens e até aquí enviei 325, o que totaliza 3.880 e-mails. Esse número elevado de mensagens me fez pensar que minha participação foi proveitosa, também pelos seguintes pontos:

- Compartilhei com mais companheiros de A.A. Alguns eu já conhecia antes, outros só conhecí depois da Internet, e alguns outros eu ainda não conheço pessoalmente, mas pretendo fazê-lo;

- Vencí vários bloqueios na utilização de microcomputador. Não estão totalmente superados, mas há esperança de melhora;

- Tratei de assuntos que ainda não havia conseguido tratar nos grupos ou órgãos de serviço, tais como: aprofundamento de temas, calendário de eventos, melhoramentos em grupos;

- Descobrí mais um meio de partilha das experiências individuais e grupais de A.A., as quais se perdem se não forem compartilhadas (e não devemos perder o que conquistamos, pois seria sofrimento inútil experimentar o que já foi experimentado com erros e acertos);

Solicitei apadrinhamento e estou sendo apadrinhado na Internet pelo mesmo companheiro que me incentivou a conhecer este meio de comunicação;

- Além disso, conhecí um modo de praticar a Unidade de A.A., através da troca de informações, do estudo da literatura e do relato de aplicações dos princípios de A.A. em situações que, muitas vezes, confundem o membro que se encontra sozinho.

Porém, com a luz que emana do grupo, essas situações foram clareadas e o que era impossível tornou-se possível quando foi iluminado. O que era insuportável deixou de sê-lo com o uso da força obtida no grupo.

Como eu queria demonstrar, é proveitoso participar no AAbr, via Internet, como complemento da participação "cara a cara" nos grupos, no programa e no estudo da literatura de A.A., ou através do telefone e do correio tradicional.

O proveito é o da lapidação humana, de que todos necessitamos para deixar de ser pedra bruta e nos tornar polidos.

Concluo reafirmando que o benefício é maior que o sacrifício. Como tem feito muito bem para mim, eu me vejo com a responsabilidade de convidar mais companheiros para participarem conosco nos grupos de A.A. na Internet. Termino desejando a todos infinitas vinte e quatro horas de feliz e serena sobriedade.

Henrique,São Paulo/SP             VIVÊNCIA - Jan/Fev 2000.              Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

TEMÁTICA OITAVO PASSO


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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Perdão

 

"Se o alcoólico cometeu erros, os outros também podem ter cometido; ninguém pode querer ser perdoado se não consegue perdoar."

("Descobri que preciso perdoar em todas as situações a fim de manter um verdadeiro progresso espiritual. A importância vital do perdão pode não ter sido óbvia para mim à primeira vista, mas meus estudos me diziam que todo grande professor espiritual havia insistido fortemente nisso. Devo perdoar as injúrias, não apenas por palavras, ou como formalidade, mas dentro do meu coração. Não faço isto por amor as outras pessoas, mas para o meu próprio bem. Ressentimento, raiva ou desejo de ver alguém punido são coisas que apodrecem minha alma, me prendem a mais dificuldades, me amarram a outros problemas.")

O ressentimento é uma luta emocional com algum acontecimento do passado que não pode ser alterado, conseqüentemente, a manutenção do ressentimento é inútil, pois não muda nada. Além disso, implica deixar que outros dirijam minha vida, pois permite que algo que fizeram lá atrás continue me perturbando ainda hoje.

Também é necessário que se aprenda a perdoar nossos semelhantes, considerando que são tão falíveis quanto nós.

Se o alcoólico cometeu erros, os outros também podem ter cometido. E ninguém pode querer ser perdoado se não consegue perdoar.

Será mais fácil perdoar se a gente compreender que muitas pessoas que aparentam ser ou até foram grosseiras e desagradáveis, na maioria das vezes procederam assim como mecanismo de defesa, tentando se proteger; tais atitudes indicam fraqueza e não força.

Se eu conseguir tratar essas pessoas com cortesia e bondade haverá admiração e gratidão por parte delas, pois na realidade elas são muito carentes de afeto; há muitas feridas em suas almas e esta é a razão de tais atitudes.

Não nos esqueçamos de que a mania de falar mal dos outros é mera decorrência de um sentimento de inferioridade unido a um desejo de superioridade. Diminuindo os outros, as pessoas têm a ilusão de aumentar seu próprio tamanho. Toda maledicência é confissão pública de inferioridade, fraqueza e raquitismo espiritual, exacerbada pelo desejo de uma superioridade que não possuem nem tem condições de possuir. Quem consegue compreender isso consegue também deixar de se ressentir com a maioria das coisas.

O certo é procurar evoluir sem se comparar com nada e com ninguém.

Quem é superior quer servir, que é um comportamento ativo, e quem é inferior quer ser servido, que é um procedimento passivo.

Da mesma forma, quem perdoa demonstra ser forte e sadio, aceitando a si mesmo como é.

Deus me deu o livre-arbítrio e, conhecendo perfeitamente como funciona meu cérebro e minha natureza, me deu também os ensinamentos necessários para que me sinta bem e feliz. Não permito que nada perturbe isso. Ressentimentos, raivas, remorsos ou outras coisas negativas não podem tomar conta de mim.

Se tivermos ressentimento de alguém seria bom analisarmos detidamente o fato, com isenção de ânimo e depois perdoar, esquecer.

Se houver possibilidade de conversar com essa pessoa sobre o assunto, convém falarmos com franqueza e sinceridade, procurando com boa vontade saber suas razões.

Talvez assim possamos readquirir uma amizade, ou pelo menos resolveremos o assunto de vez, eliminando o ressentimento que nos incomoda.

Não é tão difícil quanto aparenta ser. Os que tentaram se surpreenderam.

Uma vez feita a relação das pessoas e dos danos, assim como reexaminados os fatos com a mesma técnica empregada no 4º Passo, nós, alcoólicos, saberemos exatamente a quem devemos pedir perdão e fazer reparações.

("Assim como você, muitas vezes me considerei a vítima do que as outras pessoas dizem e fazem. Mas todas as vezes que confessei os pecados dessas pessoas, principalmente daquelas cujos pecados eram diferentes dos meus, descobri que as coisas só pioraram. Sendo assim, agora, se alguém fala mal de mim, primeiro pergunto a mim mesmo se há alguma verdade no que foi dito. Se não há nenhuma, procuro, embora com dificuldade, perdoar essas pessoas e a mim mesmo.")

Não posso e não devo me acomodar às circunstâncias da vida. Não posso esperar para perdoar. Tem que ser já.

Preciso estar sempre totalmente livre para seguir de imediato, sem tardanças, novos caminhos que surgem, sem ter que perder tempo para me desembaraçar de coisas das quais já podia ter me libertado muito antes e que por causa da morosidade perturbam meu crescimento.

Entrar em ação o mais rápido possível: perdoar.(L.D./SP)

Vivência n° 98 - Nov/Dez. 2005           Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

O ÁLCOOL...







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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ALCOOLISMO: A DOENÇA DO ESQUECIMENTO

 

Inúmeros companheiros em seus depoimentos costumam dizer que alcoolismo é a doença do esquecimento. Eu mesmo já me flagrei com tal afirmativa.

Hoje, ela é para mim tão preciosa e verdadeira, como a qualidade de vida que A.A. proporciona ao alcoólico que busca praticar os princípios sugeridos pela Irmandade. Posso, num instante, esquecer-me de onde vim, posso esquecer-me da profundidade do meu fundo de poço e naquele instante acontecer o desastre.

Somos individualmente, células de um grupo, e este, célula de um formidável conjunto, que mediante seus órgãos de serviços, tem maravilhado o mundo por suas características peculiares, como a inexistência de chefias e hierarquias, como a realidade espantosa da 7ª Tradição, de difícil entendimento para a maioria dos seres humanos. E isso funciona. E isso cresce. E isso tem sido aceito pelos mais conservadores profissionais, clérigos, sociedades herméticas e isso não questiona política, religião, raça, sexo, cor. Nada proíbe, nem mesmo que os seus membros voltem a beber. Transcende à mais perfeita democracia. É tão suave e harmônico, que muitas vezes, reuniões há, em que não se pronuncia a palavra “álcool”.

Por vezes, tais reuniões são tão espiritualizadas, que nos permitem o esquecimento. São tão filosóficas que se iniciam e terminam como se estivéssemos “embriagados” pelo néctar dos deuses e nem nos lembramos que faltou nessa reunião o bêbado, o traste humano, a alma, o motivo, o motor de Alcoólicos Anônimos.

Baseados nesse paraíso que encontramos, nesse oásis de sobriedade, achamos que a vida é assim e introjetamos a serenidade adquirida e nos esquecemos conjuntamente da verdadeira origem de A.A., da mesma forma que pode ocorrer o meu esquecimento pessoal.

A nossa sobriedade melhora, a nossa vida melhora, e passamos a projetá-la sobre os que estão chegando e as temáticas aos novos e ao público são recheadas de espiritualidade apenas. Mais uma vez a doença do esquecimento nos impede de lembrar que nas origens foi escrito: “Alergia física e obsessão mental”, registrado no “Livro Azul” mediante a percepção fantástica do Dr. Silkworth, o que mais tarde se comprovou nas abordagens malsucedidas do Bill, quando o mesmo tentava empurrar “goela abaixo”, espiritualidade e Deus a seres que tinham perdido a fé em si mesmos. Bastou que o nosso Bill falasse em doença, que o Dr. Bob estacionou seu alcoolismo e A.A. floresceu.

E essa é a realidade.Todo alcoólatra é neurótico, nem todo neurótico é alcoólatra. Este, sutilmente descobriu o álcool como anestésico de suas sofridas neuroses e isso ocorreu porque o seu organismo já vinha quimicamente e neuroquimicamente esperando por tal anestésico, enquanto que os demais neuróticos continuam sofrendo com as suas angustias, porque o elixir mágico não lhes “fazia a cabeça”. Essa diferença é notável. Os neuróticos não alcoólatras apresentam perfis psicológicos muito semelhantes aos neuróticos alcoólatras. Evitar o esquecimento é reportar-se às origens. Alcoolismo é doença física.

Salvo melhor juízo, sugiro reflexão profunda aos companheiros temáticos.

(Dr. Emanuel F. Vespucci; Dra. Darci P. de Almeida)       VIVÊNCIA N.° 89 MAI/JUN. 2004.    Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

terça-feira, 7 de agosto de 2012

4º CICLO DOS DOZE PASSOS–1º DISTRITO ÁREA MG

4 Ciclo

Uma solução para o Alcoolismo


Texto extraído de uma coletânea “CONHEÇA SUA MENTE” “...E VIVA MELHOR” da revista Seleções Reader’s Digest no ano de 1960.Early%20version%20of%2012%20steps%20Bill%20W%2002
Um auxiliar de Rockefeller dissera: "Mas os AAs são como os cristãos do primeiro século!" E todos sabemos que os cristãos do primeiro século transformaram o mundo. . . sem dinheiro.”
PAUL DE KRUIF
HÁ 25 ANOS, o alcoolismo era um dos males mais sem remédio que afligiam a humanidade. Os milhões de pessoas que dele sofriam viviam quase fora do alcance da ciência médica. Hoje verifica-se uma transformação radical no terrível destino dessas criaturas. Mais de 250.000 ex-alcoólicos levam vidas normais e úteis, sendo muitos deles melhores cidadãos do que muitos de nós que bebemos ocasionalmente.
Essa espantosa vitória não tem origem médica. As próprias vítimas foram os seus primeiros médicos. O remédio que tomam não é um produto químico. A curiosa arma com que combatem a praga do alcoolismo é uma humildade extrema. Têm um comandante, que não é humano. É Deus — tal como cada qual deles O compreende.
Não têm qualquer espécie de organização e rejeitam todos os donativos externos. Adotam uma regra rigorosa: o nome de nenhum deles deve ser publicamente divulgado. Sacrifício e humildade - eis os segredos do poder com que combatem a morte.
Tal é a irmandade dos Alcoólicos Anônimos.
Em 1934 havia apenas um solitário A.A.. Homem brilhante, como o são quase sempre os alcoólicos, mas, apesar da sua inteligência, travando uma batalha perdida com a garrafa, que na maioria das vezes acabava por jogá-lo literalmente na sarjeta. Estava a caminho de ser internado como vítima de loucura alcoólica. O começo da salvação desse "Mr. Bill", como lhe chamam os AAs., foi um mistério espiritual. Foi ajudado por um ex-ébrio, "Ebby", que lhe assegurou que o único remédio para bêbados era a simples fé em Deus, a submissão a Deus: "Seja feita a Tua vontade e não a minha."
O que fazia de Ebby um missionário algo estranho era que ele, embora não estivesse embriagado na ocasião, não conseguia manter-se fiel ao seu remédio. Era-lhe impossível deixar de beber completamente.
Bill, ateu convicto, dificilmente poderia candidatar-se à terapêutica teórica de Ebby. O que nele havia era apenas um desejo desesperado de deixar de beber. Certa vez, quando fazia uma cura de desintoxicação num hospital (sabia que isso era um expediente temporário), Bill sentiu crescer a um ponto intolerável o estado de depressão em que se achava, até que por fim teve a impressão de que chegara ao fundo do abismo.
De repente, surpreendeu-se exclamando: "Se há Deus, que Se mostre! Estou disposto a tudo, a tudo!"
Imediatamente, o quarto pareceu inundado de uma; grande luz branca . Caiu em êxtase. Sentiu subitamente que se tornara um homem livre, livre do seu demônio. Dominava-o o inefável sentimento de uma "Presença".
Depois Bill ficou assustado. A sua educação científica lhe dizia: "Você está com alucinações. Convém chamar um médico." Foi providencial que êle houvesse contado a sua visão ao Dr. William Duncan Silkworth, havia muitos anos médico-chefe do Hospital Charles B. Towns de Nova York. Graças à sua vasta experiência, o Dr. Silkworth sabia muito bem que não havia qualquer esperança médica para a maior parte dos alcoólicos e isso lhe inspirava compaixão pelos bêbedos inveterados.
— Estou doido, Doutor - disse Bill, aterrado.
O Dr. Silkworth interrogou-o e por fim disse:
— Não, Bill, você não está doido; passou-se algum fato espiritual básico.
Bill lembrou-se então de um livro que lera nos seus tristes esforços em busca de uma cura. Tratava-se de As Variedades da Experiência Religiosa, do psicólogo William James. Ensinava êle que as verdadeiras experiências religiosas têm um denominador comum de dor, sofrimento, calamidade e desesperança completa. Essa "deflação profunda" era necessária, dizia James, antes de qualquer vítima ficar em condições de receber o remédio de Deus. E fora exatamente isso o que acontecera a Bill.
Bill, que era antes de mais nada um organizador, ficou ansioso por contar a outros alcoólicos o que lhe acontecera.
Já divisava o início de uma reação em cadeia entre eles. "Saí à procura de bêbedos num ímpeto febril", conta Bill. "Havia em mim uma espécie de impulso produzido por dois motores conjugados — de uma parte, genuína espiritualidade; da outra, o meu velho desejo de ser homem de ação e pessoa importante."
A ação de Bill junto aos bêbados redundou em insucesso. Ao fim de seis meses, não havia um só das dezenas de ébrios a quem tentara fazer ver Deus que houvesse abandonado a bebida.
Escute Bill — disse o Dr. Silkworth — você está sendo mal sucedido porque “prega” a esses alcoólicos. É preciso primeiro operar uma deflação nessa gente. Diga-lhes as verdades nuas e cruas da Medicina. Tem de incutir neles a convicção de que a sua sensibilidade orgânica os condenará a enlouquecer ou morrer, se continuarem bebendo.
Eles dariam ouvidos a essas coisas se elas lhes fossem ditas por outro alcoólico, disse ainda o Dr. Silkworth. E, então, Bill poderia sugerir-lhes o remédio de Deus.
Assim conseguiu Bill a sua primeira conversão, um médico, o "Dr. Bob". Em seguida, os dois trataram de agir sobre outros. No verão de 1935, depois de muitas tentativas, Bill e o Dr. Bob só conseguiram convencer mais um alcoólico. Os três formaram o primeiro grupo de filiados aos Alcoólicos Anônimos.
Em 1939, Bill e o Dr. Bob contavam com orgulho um total de cerca de 100 ébrios, absolutamente inveterado, que haviam abandonado a bebida. Resolveram escrever um livro, Alcoólicos Anônimos, para comemorar esse fato sem precedentes. O livro tratava do que eles chamaram os 12 passos que levavam à vitória contra a bebida. Podemos resumi-los da seguinte maneira:
Ter um desejo sincero de deixar de beber.
• Reconhecer que não pode. (É essa a etapa mais difícil.)
• Fazer uma rigorosa confissão dos seus defeitos pessoais.
• Resolver ajudar os outros.
• Suplicar a ajuda onipresente de Deus.
• Aceitar e reconhecer essa ajuda.
A princípio os médicos mostraram-se dúbios em relação a um método que parecia "nada ter de científico”. Mas um número cada vez maior de médicos principiou a dar ajuda a Bill e ao seu bando de ex-beberrões. O ilustre psiquiatra Dr. Harry Tiebout, de Greenwich, Estado de Conecticut, não tivera êxito algum com o tratamento científico dos seus clientes alcoólicos. Um dia, um deles, uma mulher no último grau de alcoolismo, foi procurá-lo depois da sua primeira reunião com os AAs e lhe disse: "Creio que sei qual é o remédio! Nunca mais beberei Doutor!” E nunca mais bebeu.
Esta mulher e outras pessoas regeneradas disseram ao Dr. Tiebout que haviam aceitado um poder mais alto — a saber, Deus. Mas antes, como os AAs. lhes ensinavam, tinham de reconhecer a própria impotência; tinham de chegar à conclusão de que haviam atingido o fundo do abismo. O que atrapalha os alcoólicos típicos é que vivem na arrogante certeza de que poderão por si mesmos "acabar com essa história de bebida". Só quando finalmente percebem que não podem é que, segundo o Dr. Tiebout, chegam ao fundo. Cabe-lhes então escolher: prosseguir na descida para a loucura e para a morte... ou iniciar a ascensão para Deus. Quando preferem Deus, não têm mais vontade de beber. É tudo assim tão simples.
"O milagre dos A.A. se tornou então mais claro para mim”, diz o Dr. Tiebout. "Chegar ao fundo passou a ser o meu objetivo terapêutico em relação aos alcoólicos."
Bill e o Dr. Bob, juntamente com os seus conversos, conseguiam cada vez mais recuperações. Consideravam recuperação a abstenção total, completa e permanente de bebidas. Ao fim de seis anos, o número se multiplicara para mais de 2000, chegando, ao fim do sétimo ano, a 8000. Um dos motivos desse espantoso desenvolvimento é, nas palavras do famoso neuropsiquiatra Dr. Foster Kennedy, de Nova York, o seguinte: "Todo o bêbado curado serve de missionário junto aos doentes.” Foram salvos por Deus, e a sua maneira de agradecer a Deus é medicar os outros.
Nenhum AA. precisa ser anônimo para a família, os amigos ou os vizinhos. Mas perante o público — imprensa, rádio, cinema e televisão — não podem revelar a sua identidade. Por quê? Bill explica em poucas palavras. A fim de conseguirem humildade suficiente para sobreviver, tiveram de abrir mão de certas características comuns a muitos deles — ambição e orgulho excessivos — e de abandonar a sua delirante batalha pelo prestígio pessoal. O anonimato é apenas humildade, chave espiritual da vida que levam.
A classe médica tem agora altos louvores para os AAs., reconhecendo-lhes o tratamento como o realmente indicado para os alcoólicos. Os médicos têm encaminhado aos Alcoólicos Anônimos casos difíceis de alcoolismo aos milhares. Mas desde que, nos primeiros tempos, todos os alcoólicos recuperados tinham de começar do fundo, rigorosamente como os bêbedos habituais e miseráveis, os médicos principiaram a fazer aos irmãos dos A.A. uma pergunta embaraçosa: "Onde é realmente o fundo? Como se reconhece um alcoólico no início? Se soubéssemos, poderíamos começar a elevar esse fundo.
Bill explicou que o primeiro sinal é a perda de controle sobre a bebida. Muitas pessoas, talvez a maior parte das que bebem, sabem o que é a intemperança. Mas o alcoólico potencial percebe que está começando a embriagar-se em horas impróprias -— quando as consequências podem ser terrivelmente prejudiciais. Servindo-se desse sinal, os médicos têm conseguido descobrir bêbados incipientes aos milhares. Dizem a tais clientes que o fato de ainda não haverem perdido os seus empregos não quer dizer que não corram esse risco e os fazem ingressar num grupo de A.A.
"São os médicos que agora recrutam um terço de todos os nossos pacientes", explica Bill. "É por isso que temos agora um total de 250.000 casos de recuperação." E os AAs. fixam a sua taxa de recuperação em 75% de todos os que sinceramente tentam seu tratamento.
Por que, diante de tão estrondoso êxito, sucede que os AAs. ainda sejam totalmente desprovidos de organização? Não há hospitais, não há técnicos especializados remunerados. Os A.A. permanecem uma irmandade unida por tênues laços, milhares de pequenos grupos de bêbados recuperados que se reúnem constantemente para se fortalecerem mutuamente contra o seu único inimigo, o álcool. As portas dos seus locais de reunião estão sempre abertas às vítimas, por mais baixo que tenham caído. Ajudam a levantar todos os que caem, e muitos são os que o conseguem.
Por que tem feito questão essa irmandade de permanecer pobre?
— Isso temos de agradecer a John D. Rockefeller, Jr. — diz Bill. — Um dia pedimos-lhe dinheiro para construir hospitais e montar uma grande organização. Rockefeller ficou profundamente impressionado, mas disse: "Creio que o dinheiro vai estragar tudo!" E se negou categoricamente a atender-nos.
Um auxiliar de Rockefeller dissera: "Mas os AAs são como os cristãos do primeiro século!" E todos sabemos que os cristãos do primeiro século transformaram o mundo. . . sem dinheiro.”

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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Enfrentando nossos temores

 

Às vezes, ser grato com responsabilidade significa ser a voz minoritária.

Quando cheguei em A.A. encontrei à minha volta bons exemplos que me ensinaram os princípios os quais devemos pôr em pratica para modificar nossas vidas. O homem que seria meu padrinho estava dizendo um dia, durante o café, que havia estudado as Doze Tradições e que aprendeu a colocá-las em prática no seu dia-a-dia. Interessei-me e comecei a prestar atenção no que ele tinha a dizer, embora pensasse que, na verdade, as Doze Tradições não teriam nenhuma aplicação pratica na vida pessoal e que certamente eram para pessoas que contavam com mais anos de sobriedade. Eu disse para mim mesmo que talvez algum dia chegaria “ao nível” das Tradições depois de “conhecer a fundo” os Doze Passos.

Esse homem me disse que colocava o bem-estar comum de sua família acima de suas necessidades e desejos pessoais, e o bem-estar da empresa, do seu chefe e de sua equipe acima de seus desejos egoístas de obter êxito pessoal. Explicou o conceito da auto-suficiência de uma forma como eu nunca havia escutado antes, ao descrever o princípio espiritual de que nós, alcoólicos em recuperação, tínhamos que custear nossos próprios gastos na Irmandade.

Quanto mais ele falava, mais eu me interessava. Comecei a falar com esse homem sobre tais princípios na medida em que começamos a estudar os Passos. Uma das coisas que ele me disse a respeito da Décima Segunda Tradição foi que, algum dia, uma das coisas mais difíceis que eu deveria fazer seria quando tivesse de mostrar esses princípios e carinhosamente colocá-los acima das personalidades de todo o grupo, mostrando que seus pensamentos estavam equivocados. Disse-me que algum dia eu seria a voz da minoria e teria de vencer o medo que me atormentasse porque ninguém faria isso por mim.

Com efeito, esse dia chegou durante uma das reuniões dos sábados à noite, das quais eu gostava tanto. Estava cheia de veteranos e companheiros de A.A., cuja sobriedade eu respeitava muito.

Durante as leituras e os outros procedimentos usados para iniciar uma reunião, a sacola é passada. Então, o coordenador anunciou que passaria uma segunda sacola, destinada a recolher fundos para a festa de natal das crianças do Centro da Rua dos Robles. Como eu estava sentado na primeira fila, ele me passou uma das sacolas e deu a outra para alguém da mesma fila. Então presumia-se que passaríamos a sacola por toda a sala, até chegar a ultima fila. No instante em que peguei a sacola, senti uma ansiedade profunda e olhei para as Doze Tradições colocadas na parede. Pareceu-me que a Sexta Tradição era a que mais brilhava entre as outras. Tratava-se de uma causa nobre: as crianças no natal. Também se tratava de nossos filhos, porque o Centro era um clube onde se celebram as reuniões de A.A. Tentei, por isso, pensar que não era um empreendimento de fora, mas o coração dizia que sim. O clube era um estabelecimento semelhante, mas as crianças não eram membros de A.A. Passei a sacola à pessoa que estava a meu lado e disse: “Não posso participar disso”.

A ansiedade aumentou quando senti que tinha de fazer algo a respeito. Mas o que eu poderia fazer? Sou uma pessoa que gosta de agradar aos outros. Se dissesse mais alguma coisa, temia que as pessoas achassem que eu estava passando dos limites e me colocasse de lado. A situação não preocupou a mais ninguém, já que vi muitos colocando dinheiro na sacola, satisfeitos.

Enquanto eu quebrava a cabeça para tentar resolver este dilema, a reunião começou e continuou como de costume. Porém, Deus havia concebido um plano para mim nesta noite e fui chamado a falar. Ao levantar, minhas mãos começaram a suar porque eu sabia o que tinha de fazer. Teria que me colocar em pé de frente ao salão repleto de pessoas que haviam permanecido sóbrias por muito tempo, a quem eu respeitava muito, e seria eu quem teria de dizer a eles que aquilo não era correto. Fiz uma oração rápida a caminho da tribuna. Quando cheguei lá, respirei fundo e falei. Não me lembro com exatidão o que disse, mas eles receberam bem... até chegar o intervalo. Vários membros então me cercaram tentando “me ensinar” dizendo que eu estava equivocado, e começaram a compartilhar comigo o que eles concebiam como o que era certo em todo esse assunto.

Apesar de toda sabedoria que esses veteranos, bem intencionados, generosamente me ofereciam, não mudei meu voto e nem a minha maneira de pensar. O que realmente aconteceu foi que abri as portas para um diálogo sobre esse problema e a consciência do grupo decidiu que não passaria outra sacola para causas externas.

Vários princípios espirituais fizeram-se presentes nessa situação, mas devo a Deus todo o resultado. Ele preparou-me ajudando a me familiarizar com a Sexta Tradição e com a forma que esses princípios funcionam para o nosso bem e o de toda a Irmandade. Se não fosse pelos Doze Passos, não teria tido a fé para enfrentar meus temores e ser uma voz minoritária.

Ainda não estava inteirado dos Doze Conceitos como princípios espirituais, mas comecei a aprender a importância da voz da minoria para o bem de A.A. antes de saber que este era um principio espiritual. Todos os nossos Legados se sustentam mutuamente. Nunca é cedo para começar a aprender e praticar todos esses princípios “em todas as nossas atividades”.

(Grapevine, março de 2000)             VIVENCIA N° 80 NOV/DEZ / 2002                  Colaboração, Grupo Carmo Sion de AA

domingo, 5 de agosto de 2012